Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

26 de abril de 2017

Vencer um povo é tirar-lhe a vontade de perseverar na luta

Clausewitz, o grande teórico da guerra teutônica, enunciou o princípio de que a vitória sobre um povo não consiste em destruí-lo fisicamente, mas em lhe tirar a vontade de perseverar na luta.

Mil episódios históricos há que confirmam essa máxima. Napoleão, por exemplo, obtinha vitórias militares tão espetaculares que extinguiam nos adversários qualquer desejo de resistir.

Dois povos houve, entretanto, aos quais nenhuma catástrofe militar conseguiu alquebrar a determinação de levar a luta até o fim. Por isto, desgastaram e aniquilaram o poder do Corso. Como todos sabem, esses povos foram o espanhol e o russo.

Assim, não causa espanto que princípio tão fundamental já muito anteriormente a Clausewitz tenha sido enunciado. Quinhentos anos antes de Cristo o escritor chinês Sun Tzu, discorrendo sobre as "Regras da Arte Militar", asseverou que "um general competente sempre sabe a arte de humilhar o inimigo sem travar combate, de capturar as cidadelas sem desembainhar a espada; ele conhece a arte de conquistar territórios sem neles penetrar".

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Como é natural, os militares e os políticos soviéticos, eles também, têm presente esse princípio, e o aplicam largamente na guerra psicológica que movem contra o Ocidente.

Sendo um dos melhores métodos para tirar a um adversário a determinação da luta, persuadi-lo da inutilidade da resistência, uma imensa propaganda se desenvolve de polo a polo, nos países não comunistas, visando inculcar-lhes que a vitória do marxismo é uma fatalidade histórica.

Essa tese é sustentada de modo claro e radical por todos os doutrinadores comunistas. Mas, assim enunciada categoricamente, não alcança ela senão uma pequena penetração no espírito público. É que o comunismo assusta, causa horror em numerosos setores da opinião pública.

Bem sabem disto os ocupantes do Kremlin. E por isto usam em sua ofensiva alguns outros meios — e bem mais sutis. Um deles, o mais generalizado, consiste em difundir nos ambientes que chamaria de pré-comunistas — demo-cristãos, progressistas, socialistas e congêneres — a convicção de que as multidões contemporâneas, e especialmente os operários e universitários, são arrojadamente e irreversivelmente esquerdistas. Nada lhes pode resistir ao ímpeto vitorioso. E, em conseqüência, o mundo de amanhã será totalmente esquerdista.

No que esse vago esquerdismo se distingue do comunismo ou com ele se identifica, não o diz a propaganda. Mas fica subentendido que o impulso do proletariado e da mocidade para a esquerda só encontrará seu ponto terminal quando desfechar na plenitude da esquerdização. Ora, falar em plenitude da esquerdização importa em designar — um pouco veladamente — o próprio comunismo. Protegida apenas por esse pequeno disfarce, a tese derrotista penetra assim em jornais, rádios e televisão que temeriam perder sua clientela se falassem claramente na inelutabilidade de uma vitória do comunismo.

A contrário senso, uma campanha anticomunista eficiente tem de destruir o mito da inelutabilidade da esquerdização. Pois assim se preserva nos anticomunistas a determinação de lutar. E a tarefa não é difícil, pois essa inelutabilidade não passa de uma balela.

Fonte: "Já Sun dizia...", Folha de S. Paulo, 28.06.1970