Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

6 de janeiro de 2022

A civilização cristã brota dos espíritos impregnados da doutrina de Nosso Senhor

Seria supérfluo entrar aqui na análise das muitas definições de civilização, apresentadas pelas várias correntes filosóficas. Em todas elas encontramos um resíduo comum, que serve para o desenvolvimento do conceito de civilização todas as manifestações do espírito humano. Os fenômenos de caráter econômico, político, social e artístico só podem ser considerados como expressivos de uma civilização na medida com que refletem uma tendência, uma atitude ou uma definição do espírito humano.

Por isto, uma civilização cristã é aquela que brota dos espíritos profundamente impregnados da doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, como esta doutrina é, antes de tudo e essencialmente uma civilização, é impossível existir uma civilização cristã na qual os homens não professem a religião de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Entretanto, a Religião de Nosso Senhor Jesus Cristo não pode ser toda e qualquer religião que se diga ou pretenda cristã. Se de fato Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu uma só Igreja verdadeira, só será plenamente cristão o povo que a ela pertencer. Católicos, em tudo dóceis à Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana, consideramos heréticas e dignas de anátema as igrejas dissidentes, que ela fulminou com sua condenação.

Isto nos leva a uma conclusão de capital importância: o Brasil só será real e genuinamente cristão sendo católico, apostólico, romano. E, portanto, nossa civilização, só continuará cristã se o Brasil continuar dentro do aprisco da Santa Igreja Romana.

* * *

Ser católico consiste em crer e praticar a [doutrina da] Santa Madre Igreja Católica, Apostólica Romana. E a Igreja não manda crer apenas os artigos do Credo, ela impõe que aceitemos na íntegra toda a sua doutrina, incluindo as conseqüências de caráter político, econômico e social que tal doutrina envolve; o que implica em afirmar que a condição essencial para que qualquer país tenha a civilização cristã consiste em que ele receba a doutrina da Igreja em sua plenitude.

Fonte: "Civilização Cristã", Legionário nº 546, 24 de janeiro de 1943

O fim do ano, o Juízo e as conjecturas prováveis

Está encerrado [mais um] ano. E impõe-se a velha e quase diríamos gastíssima praxe do retrospecto, seguido de um olhar ansiosamente interrogativo para [o ano que entra]. Seria inútil tentar fugir a essa praxe, por mais rotineira que pareça. Ela nasce da própria profundeza da ordem natural das coisas. Foi Deus que criou o tempo, e quis que, para os homens, fosse ele dividido em anos. Esta duração anual, unidade sempre igual a si mesma, é admiravelmente proporcionada à extensão da existência humana e ao ritmo dos acontecimentos terrenos. Quis a Providência que a inexorável cadência dos anos proporcionasse aos homens, nos dias que servem de ponte entre o ano velho e o ano novo, a ocasião para um exame atento de tudo quanto neles e em torno deles se foi mudando, para uma análise serena e objetiva dessas mudanças, para uma crítica dos métodos e rumos velhos, para a fixação de métodos e rumos novos, para uma reafirmação dos métodos e dos rumos que não podem nem devem mudar.

De algum modo, pois, cada fim de ano se parece com um Juízo, em que tudo deve ser medido, contado e pesado, para a rejeição do que foi mau, a confirmação do que foi bom, e o ingresso em uma etapa nova.

A praxe dos retrospectos e das conjeturas de fim e começo de ano é, pois, iniludível.

Conformando-nos com esta disposição da Providência, escrita na própria ordem natural das coisas, entreguemo-nos ainda uma vez, sob o olhar de Maria, a esta tarefa de medir, pesar e prognosticar. Prognosticar, sim. Pois se habitualmente Deus a ninguém revela o futuro, a mente alguma deu o dom de fazer por si mesma prognósticos infalíveis, quis entretanto que o intelecto do homem tivesse o lume suficiente para estabelecer conjeturas prováveis, que podem servir de elemento precioso para a direção das atividades humanas.

Fonte: "Ide e construí um mundo novo!", Catolicismo nº 97, janeiro de 1959


21 de fevereiro de 2018

Mais do que Mamon, é o pensamento que conduz os homens

Quem concebe um país unicamente como um conjunto de classes profissionais, e nada mais, pensa que viver é só trabalhar. Ora, tal pensamento, em lugar de ser uma verdade óbvia, é um erro para além de óbvio. Se o homem trabalha, é para um fim. Que fim é esse? Depende da idéia que ele tenha formado do que seja esta vida. Como o trabalho é mero meio para alcançar este fim, ele vale menos do que esse fim. Pensar, e por meio do pensamento conquistar a Verdade, amá-LA, servi-LA, eis o grande fim da vida.

A Verdade? Sim, e com "V" maiúsculo. A Verdade, personificada naquele que disse de Si: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo. 14,6).

Uma concepção a-filosófica e a-religiosa da sociedade, meramente econômica e profissionalista, dá origem ao grande desespero das multidões contemporâneas. Ontem estas se esbaldavam para fazer capital, hoje para fazer revolução, e já amanhã para se atirarem no bueiro do miserabilismo niilista, isto é, na glorificação do andrajo e da miséria, da sujeira, do desmazelo e do caos.

Queira-se ou não, mais do que Mamon, é o pensamento que conduz os homens.

Assim, é necessário não só que as profissões se organizem, mas também que surjam opiniões (fagulhas de pensamento a chispear no ambiente hoje tão analfabetizado e pornografizado da vida social). E que essas opiniões se organizem. Que reunam em vastas associações, das mais diversas naturezas, todos os homens para quem pensar ainda é algo. E que estas associações façam sentir ainda sua presença colaborante, estimulante, mas também vigilante (...). Sou contra o livre-pensamento. Mas também contra o não-pensamento.

* * *

À vista disto, alguns leitores terão sentido um desabafo. Pois o pensamento vivo é abafado aí por fora. Outros, habituados tão-só a acumular dinheiro ou a articular revoluções, terão pensado que me pus de repente a sonhar. E de um sonho incômodo. Pois sonhar sobre o pensamento incomoda a quem, em matéria de brilho, só conhece o do ouro. E em matéria de luz, só conhece a do fogo, com o qual se preparam os incêndios sociais.

Mas é assim mesmo.

Eliminado da vida pública ou da vida social o fator pensamento, qual é o tipo de ordem que querem, para as democracias recém-erectas, os homens que aí estão? A ordem de um curral, onde há ração e tranqüilidade para que o Estado exerça sempre mais amplamente sua ação ordenhativa?

O sistema democrático que a abertura trouxe para o Brasil, se dá a cada homem o direito e o dever de votar, lhe impõe também a obrigação de pensar. E quando o homem pensa, necessariamente fala do que pensa. A obrigação de falar sobre temas do interesse público, até nos atos da vida privada, daí decorre. Se todos os que se reúnem em torno da mesa doméstica não conversam com freqüência sobre política (e portanto sobre religião, cultura, arte), as famílias não pensam. E quando as famílias não pensam, não educam. Só votam quando obrigadas, e jogam dentro da urna um papel com qualquer nome, nome-anedota, nome-pilhéria, conforme o caso até nome-blasfêmia.

Mas isto já não é democracia, nem sequer curral. É outra coisa: é o triste campo de concentração, a mando dos ladrões de pensamento.

Quem são estes? Os que, à força de proclamar que só vale a economia, fazem com que o homem encontre repouso e entretenimento apenas na bagatela, na piada, na pornografia e na droga. Isto é, nas várias formas do contrapensamento.

Fonte: "O tufão do contrapensamento", Folha de S. Paulo, 11.02.1983

31 de agosto de 2017

Política e Direito

O grande público, hoje em dia, já não sabe mais o que é direito natural. Vivemos afogados nas leis, decretos, portarias, circulares administrativas, regulamentos, etc. O Estado legisla com uma abundância torrencial. E todo o poder de legislar nos parece emanado única e exclusivamente dessa fonte tão prodigiosamente caudalosa.

Nada de mais errado. Há por certo uma lei que dá ao homem o direito à sua vida, à sua integridade física, a toda a liberdade de fazer o que for lícito ou louvável à sua honra, à sua reputação, à estabilidade de sua família. Mas esta lei não vem do Estado. Não tenho o direito de viver só porque a lei me assegura tal direito. E tanto isto é verdade que, se amanhã uma lei me condenasse à morte inocentemente, eu me defenderia contra ela de todos os modos. O mesmo poderia dizer de todos os outros direitos humanos. Estes direitos vêm ao homem do próprio fato de serem homens. A lei feita pelo Estado simplesmente se limita a proclamar este direito, não o cria nem o institui. A este conjunto de direitos que cada criatura humana tem pelo próprio fato de ser humana, se chama Direito Natural. A noção, por certo, está exposta de modo apenas embrionário e aproximativo, mas serve de ponto inicial para reflexões políticas da maior importância.

Por que se chama a estes direitos de "naturais"? Porque vem da natureza das coisas. Mas quem é o autor da natureza? Deus. Logo, estes direitos vem de Deus, se exprimem pela própria natureza e constituem a ordem fundamental pela qual Deus quer reger o mundo.

A própria razão natural demonstra a existência destes direitos. Mas Deus lhes deu um fundamento ainda mais sólido do que a razão humana: Ele os revelou no Decálogo. E Jesus Cristo constituiu a Igreja como mestra e defensora da lei natural e revelada, no mundo inteiro.

O Decálogo é o fundamento da civilização cristã. A opinião católica não pode deixar de atribuir a maior importância a tudo que diz respeito ao reconhecimento, por parte do Estado, dos princípios do Decálogo, das normas do Direito Natural.

Fonte: "Constituição e Direito Natural", Legionário nº 779, 13.07.1947



6 de agosto de 2017

Tendências "religiosas" modernas

O verdadeiro adversário está no panteísmo, em suas múltiplas formas. Arranhe-se qualquer sistema filosófico com ares de novo, qualquer forma mais ou menos recente de "espiritualismo", e, logo abaixo do verniz, encontrar-se-á o panteísmo. O universo é divino, e a humanidade, parte integrante do universo, também é divina. A felicidade do homem consiste em tomar consciência de seu caráter divino, excitando dentro de si a sensação vivida da sua própria divindade, o que consegue por uma série de exercícios mentais ou fórmulas litúrgicas mais ou menos mágicas, cujas modalidades variam de sistema a sistema, e em geral - como de direito em toda a magia - são conhecidas somente por uns poucos iniciados. Esta manifestação das energias divinas no íntimo de nosso ser, além de nos prestar toda a sorte de serviços psíquicos interiores úteis e deleitosos, também é muito proveitosa para o próprio cosmos. Com efeito, quanto mais excitamos em nós as energias divinas, tanto mais elas se ativam nos outros seres. E, à medida em que se ativam nos outros seres, progride todo o universo cujo desenvolvimento consiste, em essência no desdobrar das energias divinas que se encontram neles mais ou menos como o vento no espaço.

Este sistema traz, evidentemente, a morte da inteligência. Se o homem quer conhecer Deus e comunicar-se com Ele, não deve estudar nem pensar. Basta-lhe conhecer os métodos aptos a suscitar nele a experiência sensível da presença e da ação das energias universais e divinas dentro de si mesmo.

Também a vontade perde sua razão de ser dentro deste sistema. Não há propriamente uma união com a divindade por meio do esforço da vontade aplicada em praticar o bem e evitar o mal. Basta que o homem consiga despertar dentro de si por meio de métodos adequados a sensação experimental de que seu ser está naturalmente impregnado de forças divinas; o que aliás não é tão difícil pois todo o iniciado conhece tais métodos e nele se pode exercitar.

* * *

Está claro que nada disto teria capacidade de sedução, nem encanto, se não se envolvesse nos véus do mistério. Assim, a magia ressurrecta do século XX inventou não só vocábulos mas vocabulários inteiros, novos e complicados, todo um sistema literário cheio de figuras esfumaçadas e vistosas, em que estas afirmações fundamentais, variáveis aliás de escola para escola quase ao infinito em seus pormenores, vão sendo postas em circulação para uso da pobre Cristandade diluída, narcotizada e insensível do século XX.

Daí, evidentemente, uma imensa confusão de conceitos, de sistemas, de tendências. Durante todo o ano de 1951, esta confusão não fez senão perdurar e crescer.

* * *

Assim, fora das fronteiras da Igreja grassa uma religiosidade que em última análise é perfeitamente ímpia. E nos meios católicos? Ao mesmo tempo que formulamos a pergunta, contrai-se de tristeza nosso coração. Manda a verdade que se diga que também aí a confusão existe.

Fonte: "Sob o signo da confusão e da esperança", Catolicismo nº 13, janeiro de 1952

28 de julho de 2017

Coexistência de uma virilidade real com uma religiosidade sincera

Entre os muitos preconceitos errôneos que dominam a mentalidade das massas populares hodiernas, figura em lugar de destaque a convicção muito generalizada de que é impossível a coexistência, no espírito de um homem, de uma virilidade real com uma religiosidade sincera. (...)

É necessário que nos esforcemos por arrasar os preconceitos mesquinhos com que a mentalidade hodierna cerca e deforma a idéia de “homem”.

E, uma vez executada esta obra de desobstrução, poderemos então ressurgir, no espírito público, a majestosa e máscula concepção cristã de virilidade.

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A simples análise racional da expressão “viril” indica claramente a inanidade dos preconceitos modernos (veiculados especialmente pelo cinema e pelo excesso do esporte) a este respeito.

Ser másculo significa ter todas as qualidades próprias ao homem, para que este desempenhe integralmente os deveres ditados por sua alta finalidade religiosa, moral e social.

É evidente que o esforço que se desenvolva para produzir no homem qualidades estranhas à sua finalidade será ou inútil, ou nocivo.

Por outro lado, é bem evidente que as qualidades serão tanto mais preciosas para o homem - e, portanto, tanto mais másculas - quanto mais altas forem as finalidades humanas que elas visem conseguir.

Os diversos fins de um homem não têm todos importância igual. Pelo contrário, a razão demonstra que eles se subordinam uns aos outros, numa hierarquia completa.

Para cada finalidade do homem existem virtudes adequadas. E tanto mais necessárias ao homem - e portanto mais máscula será a virtude - quanto mais elevada for a finalidade que lhe corresponder.

Se existe um Deus, o primeiro dever do crente será de lhe prestar reverência e homenagem. E a violação deste dever primordial será, para o homem, uma infração máxima à virtude da virilidade.

Aos olhos dos próprios descrentes, portanto, deve ser tido o crente que não cumpre seus deveres como indivíduo “inviril”.

E, como uma conseqüência lógica, tanto mais viril será o crente quanto mais cabalmente der desempenho a seus deveres religiosos. Vêm em seguida os outros grandes deveres do homem, que marcam como que outros tantos degraus na escada da virilidade: os deveres em relação à família, em relação à pátria, em relação à humanidade, em relação a si próprio.

O cumprimento destes deveres é árduo. Ora exige os grandes esforços que caracterizam os heróis, ora reclama trabalhos obscuros e perseverantes, sem poesia, sem grandeza, todos feitos de abnegação ignorada e de banalidade absoluta.

Para o desempenho destas grandes missões, que fazem da vida de cada homem, quando bem compreendida, um poema de beleza incomparável, são necessárias certas disposições que são o pedestal de toda a virtude ou virilidade sólida.

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Vem, em primeiro lugar, a força de vontade, que é o alicerce de todas as demais virtudes. Em seguida vem todo o longo cortejo de virtudes viris, que em última análise são um simples corolário da força de vontade: sobriedade, perseverança, domínio de si mesmo, prudência, coragem, audácia, generosidade, etc.

Todos estes atributos não constituem virtudes diferentes; são apenas as cintilações multicolores de um mesmo brilhante: o vigor da vontade auxiliada pela graça.

Fonte: "Os livros que devem ser lidos", Legionário, nº 86, 13.09.1931

11 de julho de 2017

Direita, centro e esquerda

Existem em todos os Parlamentos do mundo três posições: a “direita”, o “centro” e a “esquerda”. Essa classificação serve igualmente na opinião pública dos povos para qualificar as diversas correntes. Trata-se portanto de um fenômeno universal.

À primeira vista essa divisão pode parecer clara e convincente. Porém, quem pensa um pouco a respeito dela chega à conclusão de que se trata de conceitos relativos. O Partido Trabalhista na Inglaterra, por exemplo, representa sem dúvida a esquerda do Parlamento inglês, contudo seus membros mais moderados são menos “progressistas” do que certos democrata-cristãos da Itália, os quais constituem o centro do Parlamento italiano. Os conceitos de “centro”, “direita”, “esquerda” variam, portanto, de país para país e de época para época. Uma boa parte dos programas dos atuais partidos de centro poderia ser designada antes da Primeira Guerra Mundial como de esquerda. Atuais partidos de direita teriam sido antes de 1914 colocados no centro.

Essa realidade revela, de modo claro e definido, que hoje em dia muito mais se encontra por detrás das palavras “centro”, “direita”, “esquerda”. Não deveriam ser elas, então, substituídas por outras expressões mais de acordo com o nosso tempo?

Muitos pensam assim. Porém, trata-se de uma conclusão apressada e simplificadora. Sem dúvida, revela-se nessa desvalorização e relativização das palavras, que se deu ao longo dos últimos decênios, não apenas uma crise da língua, mas também uma crise mais profunda do pensamento. Entretanto, não tem sentido substituir os vocábulos “direita”, “centro”, “esquerda” por outros. Devemos empregá-los, isso sim, com prudência e cuidado.

A monarquia, por exemplo, é vista no mundo inteiro como uma forma de governo da direita. Na esfera religiosa os presbiterianos estão muito mais à esquerda do que os anglicanos e os luteranos. Na esfera social são consideradas leis de esquerda as que suprimem o patronato em contraposição às leis que protegem este direito.

Uma investigação desses fatos conduz à constatação de que a posição de direita se harmoniza mais com os princípios de ordem, hierarquia, austeridade e disciplina que caracterizaram a ordem medieval. Esquerda significa, então, o afastar-se desses princípios e ipso facto o estar ligado aos princípios opostos.

Assim conservam as palavras “centro”, “esquerda”, “direita” um sentido profundo, lógico, se bem que sutil. Se se tomarem dois pólos espirituais, num se encontra a direita e no oposto a esquerda.

* * *

Também os homens podem ser classificados de acordo com essas três tendências: aqueles que reconhecem a Revolução – pelo menos com uma certa clareza – e se lhe contrapõem: a direita; aqueles que sabem da existência da Revolução e a conduzem rápida ou lentamente rumo ao seu objetivo: a esquerda; aqueles que não conhecem a Revolução enquanto tal ou que lhe percebem apenas aspectos superficiais e que se empenham em manter o status quo: o centro. (...)

Por mais diferentes que possam ser os grupos parlamentares ou políticos, no fundo são essas as três posições possíveis face à Revolução.

* * *

Mas o que é propriamente esta Revolução? E no que consiste a Contra-Revolução? Esses são problemas interessantes e profundos que se escondem por trás do jogo ou da luta entre centristas, direitistas e esquerdistas. (...)

A Revolução é a irreligião e portanto ipso facto uma ruína dos costumes e da civilização. (...)

O orgulho e a sensualidade do fim da Idade Média geraram movimentos culturais (Renascença) e correntes religiosas (protestantismo) com matizes igualitários e liberais. A transposição desses movimentos para a esfera política deu origem à Revolução Francesa. Essa, por sua vez, conduziu ao comunismo, que representa a difusão desses erros para o campo econômico-social.

A Contra-Revolução deve ser, sobretudo, um movimento que se empenha na promoção de uma restauração moral e religiosa séria, como fundamento da reconstrução de uma Civilização Cristã austera e hierárquica.

Fonte: Prefácio a uma edição alemã de "Revolução e Contra-Revolução".

9 de julho de 2017

Afetivo, ordeiro e pacífico

O povo brasileiro sempre foi conhecido como afetivo, ordeiro e pacífico.

Tal feitio de alma lhe vem da tradição profundamente cristã. E constitui um nobre obstáculo a que a Nação se deixe levedar pelos fermentos revolucionários indispensáveis para o êxito do socialismo e do comunismo.

É por isto que as forças da desagregação e da desordem deitam tanto empenho em criar a ilusão do contrário, apresentando nossa população como desordeira, agressiva, revoltada.

A presente publicação (*) lança um apelo para que o Brasil da bondade, o Brasil afetivo, o Brasil cristão continue idêntico a si mesmo, e não se deixe arrastar pelas solicitações da violência, seja física, seja moral. Nós brasileiros não somos afeitos à revolta e à subversão, ao contrário do que propalam os agitadores. E por mais razões que tenhamos para estar descontentes, procuramos resolver nossos problemas dentro da paz autêntica, da paz cristã que Santo Agostinho definiu lindamente como sendo a tranqüilidade da ordem.

Nosso povo tem bem consciência dos imensos recursos e possibilidades do território nacional, e sabe que o aproveitamento de toda esta potencialidade através de um trabalho empreendedor e confiante, pode tornar o Brasil uma das primeiras nações do mundo no século XXI que vem chegando.

Trabalho que exige esforço árduo, ânimo forte. Mas não foi assim que nossos antepassados dilataram as fronteiras do País? Embora sem a comodidade oferecida hoje pelo progresso, eles galgaram serras, venceram florestas, atravessaram rios e transpuseram pântanos. E extraíram da terra, pelo plantio, pela criação e pela mineração os recursos de que hoje vivem 207 milhões de brasileiros (**). Por que não podemos recobrar essa fibra, essa força de alma que nasce da Fé católica que eles nos legaram?

Não será pois com revoluções mortíferas, dissensões internas, tensões estéreis entre irmãos, de que haveremos de aproveitar as vastidões ainda inexploradas de nosso território. Mas é com esse espírito empreendedor, ordeiro e cheio de Fé, que podemos alcançar de Deus, por intermédio de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, a grandeza cristã, que deve ser a nossa, nas novas etapas históricas que se aproximam”.

(*) Fonte: Agitação social, violência: produtos de laboratório que o Brasil rejeita, Editora Vera Cruz, São Paulo, 1984

(**) número atualizado.

26 de abril de 2017

Vencer um povo é tirar-lhe a vontade de perseverar na luta

Clausewitz, o grande teórico da guerra teutônica, enunciou o princípio de que a vitória sobre um povo não consiste em destruí-lo fisicamente, mas em lhe tirar a vontade de perseverar na luta.

Mil episódios históricos há que confirmam essa máxima. Napoleão, por exemplo, obtinha vitórias militares tão espetaculares que extinguiam nos adversários qualquer desejo de resistir.

Dois povos houve, entretanto, aos quais nenhuma catástrofe militar conseguiu alquebrar a determinação de levar a luta até o fim. Por isto, desgastaram e aniquilaram o poder do Corso. Como todos sabem, esses povos foram o espanhol e o russo.

Assim, não causa espanto que princípio tão fundamental já muito anteriormente a Clausewitz tenha sido enunciado. Quinhentos anos antes de Cristo o escritor chinês Sun Tzu, discorrendo sobre as "Regras da Arte Militar", asseverou que "um general competente sempre sabe a arte de humilhar o inimigo sem travar combate, de capturar as cidadelas sem desembainhar a espada; ele conhece a arte de conquistar territórios sem neles penetrar".

* * *

Como é natural, os militares e os políticos soviéticos, eles também, têm presente esse princípio, e o aplicam largamente na guerra psicológica que movem contra o Ocidente.

Sendo um dos melhores métodos para tirar a um adversário a determinação da luta, persuadi-lo da inutilidade da resistência, uma imensa propaganda se desenvolve de polo a polo, nos países não comunistas, visando inculcar-lhes que a vitória do marxismo é uma fatalidade histórica.

Essa tese é sustentada de modo claro e radical por todos os doutrinadores comunistas. Mas, assim enunciada categoricamente, não alcança ela senão uma pequena penetração no espírito público. É que o comunismo assusta, causa horror em numerosos setores da opinião pública.

Bem sabem disto os ocupantes do Kremlin. E por isto usam em sua ofensiva alguns outros meios — e bem mais sutis. Um deles, o mais generalizado, consiste em difundir nos ambientes que chamaria de pré-comunistas — demo-cristãos, progressistas, socialistas e congêneres — a convicção de que as multidões contemporâneas, e especialmente os operários e universitários, são arrojadamente e irreversivelmente esquerdistas. Nada lhes pode resistir ao ímpeto vitorioso. E, em conseqüência, o mundo de amanhã será totalmente esquerdista.

No que esse vago esquerdismo se distingue do comunismo ou com ele se identifica, não o diz a propaganda. Mas fica subentendido que o impulso do proletariado e da mocidade para a esquerda só encontrará seu ponto terminal quando desfechar na plenitude da esquerdização. Ora, falar em plenitude da esquerdização importa em designar — um pouco veladamente — o próprio comunismo. Protegida apenas por esse pequeno disfarce, a tese derrotista penetra assim em jornais, rádios e televisão que temeriam perder sua clientela se falassem claramente na inelutabilidade de uma vitória do comunismo.

A contrário senso, uma campanha anticomunista eficiente tem de destruir o mito da inelutabilidade da esquerdização. Pois assim se preserva nos anticomunistas a determinação de lutar. E a tarefa não é difícil, pois essa inelutabilidade não passa de uma balela.

Fonte: "Já Sun dizia...", Folha de S. Paulo, 28.06.1970

23 de outubro de 2016

Por que mitificar Lutero, o heresiarca?

Não compreendo como homens da Igreja contemporâneos, inclusive dos mais cultos, doutos ou ilustres, mitifiquem a figura de Lutero, o heresiarca, no empenho de favorecer uma aproximação ecumênica, de imediato com o protestantismo, e indiretamente com todas as religiões, escolas filosóficas, etc. Não discernem eles o perigo que a todos nos espreita, no fim deste caminho, ou seja, a formação, em escala mundial, de um sinistro supermercado de religiões, filosofias e sistemas de todas as ordens, em que a verdade e o erro se apresentarão fracionados, misturados e postos em balbúrdia? Ausente do mundo só estaria – se até lá se pudesse chegar – a verdade total; isto é, a fé católica apostólica romana, sem nódoa nem jaça.

Sobre Lutero – a quem caberia, sob certo aspecto, o papel de ponto de partida nessa caminhada para a balbúrdia total – alguns tópicos [de seus escritos] bem mostram o odor que sua figura revoltada espargiria nesse supermercado, ou melhor, nesse necrotério de religiões, de filosofias, e do próprio pensamento humano.

Fonte: "Lutero pensa que é divino!", Folha de S. Paulo, 10.01.1984