Entre os muitos preconceitos errôneos que dominam a mentalidade das massas populares hodiernas, figura em lugar de destaque a convicção muito generalizada de que é impossível a coexistência, no espírito de um homem, de uma virilidade real com uma religiosidade sincera. (...)
É necessário que nos esforcemos por arrasar os preconceitos mesquinhos com que a mentalidade hodierna cerca e deforma a idéia de “homem”.
E, uma vez executada esta obra de desobstrução, poderemos então ressurgir, no espírito público, a majestosa e máscula concepção cristã de virilidade.
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A simples análise racional da expressão “viril” indica claramente a inanidade dos preconceitos modernos (veiculados especialmente pelo cinema e pelo excesso do esporte) a este respeito.
Ser másculo significa ter todas as qualidades próprias ao homem, para que este desempenhe integralmente os deveres ditados por sua alta finalidade religiosa, moral e social.
É evidente que o esforço que se desenvolva para produzir no homem qualidades estranhas à sua finalidade será ou inútil, ou nocivo.
Por outro lado, é bem evidente que as qualidades serão tanto mais preciosas para o homem - e, portanto, tanto mais másculas - quanto mais altas forem as finalidades humanas que elas visem conseguir.
Os diversos fins de um homem não têm todos importância igual. Pelo contrário, a razão demonstra que eles se subordinam uns aos outros, numa hierarquia completa.
Para cada finalidade do homem existem virtudes adequadas. E tanto mais necessárias ao homem - e portanto mais máscula será a virtude - quanto mais elevada for a finalidade que lhe corresponder.
Se existe um Deus, o primeiro dever do crente será de lhe prestar reverência e homenagem. E a violação deste dever primordial será, para o homem, uma infração máxima à virtude da virilidade.
Aos olhos dos próprios descrentes, portanto, deve ser tido o crente que não cumpre seus deveres como indivíduo “inviril”.
E, como uma conseqüência lógica, tanto mais viril será o crente quanto mais cabalmente der desempenho a seus deveres religiosos.
Vêm em seguida os outros grandes deveres do homem, que marcam como que outros tantos degraus na escada da virilidade: os deveres em relação à família, em relação à pátria, em relação à humanidade, em relação a si próprio.
O cumprimento destes deveres é árduo. Ora exige os grandes esforços que caracterizam os heróis, ora reclama trabalhos obscuros e perseverantes, sem poesia, sem grandeza, todos feitos de abnegação ignorada e de banalidade absoluta.
Para o desempenho destas grandes missões, que fazem da vida de cada homem, quando bem compreendida, um poema de beleza incomparável, são necessárias certas disposições que são o pedestal de toda a virtude ou virilidade sólida.
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Vem, em primeiro lugar, a força de vontade, que é o alicerce de todas as demais virtudes. Em seguida vem todo o longo cortejo de virtudes viris, que em última análise são um simples corolário da força de vontade: sobriedade, perseverança, domínio de si mesmo, prudência, coragem, audácia, generosidade, etc.
Todos estes atributos não constituem virtudes diferentes; são apenas as cintilações multicolores de um mesmo brilhante: o vigor da vontade auxiliada pela graça.
Fonte: "Os livros que devem ser lidos", Legionário, nº 86, 13.09.1931