Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

5 de fevereiro de 2014

Boatos e cheiro de cebola

Há uma técnica de fabricar e dar propulsão aos boatos, como para elaborar e por em circulação qualquer fator de publicidade: um slogan, um anúncio, um livro ou um jornal. O boato bem engendrado corresponde à psicologia de certas famílias de almas ou de certos setores da opinião. Ele dá corpo e palavra a prevenções vagas, ressentimentos difusos, ou impressões indefinidas. Uma vez lançado, ele encontra, esparsos aqui ou acolá, elementos dos quais muitos cercados da consideração geral, que por assim dizer o esperavam, e assim avidamente lhe dão crédito. Tais elementos, depois de degustar o boato, o disseminam, mais ou menos como — perdoe-nos o leitor a trivialidade da comparação — quem come cebola e lhe difunde o cheiro ao falar. E assim o forte hálito dos boateiros pode fazer com que, em uma nação inteira, o cheiro encebolado de uma mesma lorota se propague.

Fonte: Extremismo de direita, cebolas e sapos alados, Folha de S. Paulo, 28.12.1969