Há uma técnica de fabricar e dar propulsão aos boatos, como para elaborar e por em circulação qualquer fator de publicidade: um slogan, um anúncio, um livro ou um jornal. O boato bem engendrado corresponde à psicologia de certas famílias de almas ou de certos setores da opinião. Ele dá corpo e palavra a prevenções vagas, ressentimentos difusos, ou impressões indefinidas. Uma vez lançado, ele encontra, esparsos aqui ou acolá, elementos dos quais muitos cercados da consideração geral, que por assim dizer o esperavam, e assim avidamente lhe dão crédito. Tais elementos, depois de degustar o boato, o disseminam, mais ou menos como — perdoe-nos o leitor a trivialidade da comparação — quem come cebola e lhe difunde o cheiro ao falar. E assim o forte hálito dos boateiros pode fazer com que, em uma nação inteira, o cheiro encebolado de uma mesma lorota se propague.
Fonte: Extremismo de direita, cebolas e sapos alados, Folha de S. Paulo, 28.12.1969