Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

16 de novembro de 2013

Ao ritmo da máquina, fundem-se temperamentos, tradições e mentalidades

Nesses nossos anos de confusão, o mais das vezes os fatos influenciam muito menos pelo que são do que pelo que parecem ser. E eles parecem ser conforme os apresenta a propaganda.

Tratar do que, então? Fecho os olhos para refletir. E como há pouco girei muito largamente de automóvel pelas ruas, não é de espantar que me venha ao espírito uma multidão de figuras humanas. Obviamente as dessemelhanças entre elas são enormes. Nessa São Paulo que regurgita de filhos, netos e bisnetos da imigração, todas as etnias estão representadas. Mesmo as mais raras. Até paulistas...

Sem embargo das diferenças, desse conjunto se desprende uma marcada monotonia. É que, na imensa maioria dos casos, trata-se de gente estandardizada pela vida moderna das grandes cidades industrializadas. Mais ricos uns, outros menos, vão-se fundindo ao ritmo da máquina, no torvelinho de Mamon, os temperamentos, as tradições e as mentalidades mais diversas. Tudo tende a proporcionar a sobrevivência razoável, a saúde e a estabilidade de todos. Neste torvelinho estão engajados até os nababos. E também a eles esse sistema de trituração de almas alcança e reduz psicologicamente ao pó da mentalidade comum.

Fonte: E o mendigo tem razão..., Folha de S. Paulo, 26.11.82

6 de novembro de 2013

Que fazem os dirigentes temporais pela dilatação do Reino de Cristo no mundo?

Falamos em Cristandade. Se tomássemos hoje, a esmo, qualquer católico mesmo bem instruído, poderia ele dizer-nos o que é isto?

Os povos cristãos formam uma verdadeira família, no sentido mais genuíno da palavra. A família resulta, antes de tudo, de uma certa comunidade de vida entre seus membros, recebida da mesma fonte, do mesmo tronco genealógico. A Cristandade tem também uma comunidade de vida, a vida da graça, a vida sobrenatural que faz de cada fiel um filho adotivo de Deus. A comunidade de vida cria obrigações, na família e na Cristandade. Na Família a defesa dos ancestrais, de que todos receberam a vida natural, a defesa dos parentes, em cujas veias corre o mesmo sangue. Na Cristandade, a defesa de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Seu Corpo Místico. Na família, todos devem trabalhar para o ideal comum. Na Cristandade todos devem cooperar para a dilatação do Reino de Cristo. O conceito de Cristandade é uma projeção, no terreno natural, da grande realidade sobrenatural que é o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Se este conceito estivesse bem vivaz na mente dos católicos contemporâneos, eles perguntariam naturalmente aos seus dirigentes temporais o que fazem no momento, pela dilatação do Reino de Cristo no mundo, que serviço prestam à Igreja com este objetivo, que providências estão tomando para destruir os obstáculos que no mundo inteiro se levantam contra este supremo desideratum.

Fonte: Cristandade, Legionário, 18.08.1946

1 de novembro de 2013

Combater os erros entre católicos não é obra de divisão, mas de união

Para muitos espíritos timoratos, apontar a existência de erros entre os católicos é fazer obra de desunião. Condenando o Modernismo, Pio X desencadeou contra os fautores deste erro o zelo dos elementos mais vigilantes do mundo intelectual e dos homens de ação católicos.

S. Pio X - supérfluo é dizê-lo - não patrocinou calúnias, nem exageros, nem injustiças. Mas exprimiu o reiterado e formal desejo de que os católicos lutassem energicamente contra o modernismo.

Fez ele com isto obra de divisão? Fomentou a desunião? Pelo contrário. É o que proclamou o Santo Padre Pio XII, ao afirmar que S. Pio X lutou como "um gigante pela defesa de um tesouro inestimável: a unidade interna da Igreja em seu fundamento íntimo, a Fé".

Aqui está apontada a chave da questão. A unidade da Igreja se baseia na unidade da Fé. Combater os erros entre católicos não é obra de divisão, mas de união, porque visa congregar a todos na mesma Fé.

Um Papa tão resolutamente oposto aos erros de seu tempo não teria sido anacrônico? Não teria ele agido melhor condescendendo, calando, fechando os olhos? Pelo contrário.

S. Pio X foi um Papa atualíssimo, pois previu a terrível crise de nossos dias, e o mundo a teria evitado, se tivesse ouvido seus ensinamentos. O capitão "atualizado" não é o que deixa o barco correr ao sabor das ondas, mas o que o dirige com mão firme para evitar os escolhos.

Fonte: São Pio X, a paz interna da Igreja, Catolicismo, Junho de 1954