Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

12 de maio de 2014

Prevendo o Terceiro Segredo, com mais de quatro décadas de antecedência

A crise universal. A sociedade humana apresentava na primeira parte deste século, isto é até 1914, um aspecto brilhante. O progresso era indiscutível em todos os terrenos. A vida econômica tinha alcançado uma prosperidade sem precedentes. A vida social era fácil e atraente. A humanidade parecia caminhar para a era de ouro. Alguns sintomas graves destoavam das cores risonhas deste quadro. Havia misérias materiais e morais, é certo. Mas poucos eram os que mediam em toda a sua extensão a importância destes fatos. A grande maioria esperava que a ciência e o progresso resolvessem todos os problemas. A primeira guerra mundial veio opor um desmentido terrível a estas perspectivas. Em todos os sentidos, as dificuldades se agravaram incessantemente até 1939. Sobreveio a segunda guerra mundial, e com isto chegamos à condição presente, em que se pode dizer que não há sobre a terra uma só nação que não esteja a braços, em quase todos os campos, com crises gravíssimas. Em outras palavras, se analisamos a vida interna de cada nação, notamos nela um estado de agitação, de desordem, de desbragamento de apetites e ambições, de subversão de valores, que se já não é a anarquia franca, em todo o caso caminha para lá. Nenhum estadista de nossos dias soube ainda apresentar o remédio que corte o passo a este processo mórbido de envergadura universal.

As guerras mundiais. A de 1914-1918 pareceu uma tragédia insuperável. Na realidade, a de 1939-1945 a superou do ponto do vista da duração, da universalidade, da mortandade, e das ruínas que ocasionou. Ela nos deixou a dois passos de uma nova guerra ainda pior sob todos os pontos de vista. Massas humanas tem vivido estes últimos anos no terror dessa perspectiva, cônscias de que um terceiro conflito mundial talvez acarrete o fim de nossa civilização.

A atualidade das revelações de Fátima O elemento essencial das mensagens do Anjo de Portugal e de Nossa Senhora consiste em abrir os olhos dos homens para a gravidade destes fatos, em lhes ensinar sua explicação à luz dos planos da Providência Divina, e em indicar os meios necessários para evitar a catástrofe. É a própria História de nossa época, e mais do que isto o seu futuro, que nos é ensinado por Nossa Senhora.

O Império Romano do Ocidente se encerrou com uma catástrofe iluminada e analisada pelo gênio de um grande Doutor, que foi Santo Agostinho. O ocaso da Idade Média foi previsto por um grande profeta que foi São Vicente Ferrer. A Revolução Francesa, que marca o fim dos Tempos Modernos, foi prevista por outro grande profeta que foi ao mesmo tempo um grande Doutor, São Luis Maria Grignion de Montfort. Os Tempos Contemporâneos, que parecem na iminência de se encerrar com nova crise, têm um privilégio maior. Veio Nossa Senhora falar aos homens. Santo Agostinho não pôde senão explicar para a posteridade as causas da tragédia que presenciava. São Vicente Ferrer e São Luis Grignion de Montfort procuraram em vão desviar a tormenta: os homens não os quiseram ouvir. Nossa Senhora a um tempo explica os motivos da crise, e indica o seu remédio profetizando a catástrofe caso os homens não a ouçam. De todo ponto de vista, pela natureza do conteúdo como pela dignidade de quem as fez, as revelações de Fátima sobrepujam pois tudo quanto a Providência tem dito aos homens na iminência das grandes borrascas da História.

Os diversos pontos das revelações relativos a este tema constituem propriamente o elemento essencial das mensagens. O mais, por importante que seja, constitui mero complemento.

Fonte: Fátima: explicação e remédio da crise contemporânea, Catolicismo nº 29, Maio de 1953

11 de maio de 2014

Amor de mãe: desinteresse, gratuidade, perdão

É de Emile Faguet, se não me engano, o seguinte apólogo: havia certa vez um jovem dilacerado por uma situação afetiva crítica. Queria ele com toda a alma sua graciosa esposa. E tributava afeto e respeito profundos à sua própria mãe. Ora, as relações entre nora e sogra eram tensas e, por ciumeiras, a jovem encantadora mas má, concebera um ódio infundado contra a idosa e veneranda matrona. Em certo momento, a jovem colocou o marido entre a espada e a parede: ou ele iria à casa da mãe, a mataria, e lhe traria o coração da vítima, ou a esposa abandonaria o lar. Depois de mil hesitações, o jovem cedeu. Matou aquela que lhe dera a vida. Arrancou-lhe do peito o coração, embrulhou-o em um pano, e se dirigiu de volta para casa. No caminho, aconteceu ao moço tropeçar e cair. Ouviu ele então uma voz que, partida do coração materno, lhe perguntou cheia de desvelo e carinho: "Tu te machucaste, meu filho?"

Com este apólogo, quis o autor destacar o que o amor materno tem de mais sublime e tocante: seu desinteresse completo, sua inteira gratuidade, sua ilimitada capacidade de perdoar. A mãe ama seu filho quando é bom. Não o ama, porém, só por ser bom. Ama-o ainda quando mau. Ama-o simplesmente por ser seu filho, carne de sua carne e sangue de seu sangue. Ama-o generosamente, e até sem nenhuma retribuição. Ama-o no berço, quando ainda não tem capacidade de merecer o amor que lhe é dado. Ama-o ao longo da existência, ainda que ele suba ao fastígio da felicidade ou da glória, ou role pelos abismos do infortúnio e até do crime. É seu filho e está tudo dito.

Fonte: Tradição, Família, Propriedade, Folha de S. Paulo, 18.12.68

O medíocre e o radicalismo

O medíocre possui alguma noção de muitas coisas. Noção vaga e flutuante, bem entendido, que não lhe custe adquirir nem conservar. Ele imagina atingir o píncaro de si mesmo quando encontra, para designar cada noção, alguma palavra vistosa ou que, pelo menos, não faça parte do mais corriqueiro linguajar.

Entre nós, uma das palavras preferidas pelo medíocre é "radical". Ele sente no ar que tachar um desafeto de radical é ser nocivo a este. Ser "radical" provoca uma repulsa meticulosa e exacerbada. Então é bom ser anti-radical, porque isto atrai simpatias. Eis assim nosso medíocre a quixotear anti-radicalismo por onde quer que passe. Mas ele murchará e mudará de assunto assim que alguém lhe objete que um anti-radicalismo tão chamejante não passa de mera forma de radicalismo. Pois para debater essa objeção – aliás tão obviamente verdadeira – o medíocre precisaria conhecer exatamente e a fundo o que quer dizer "radical". Ora, seu espírito flanador aborrece os conceitos precisos e profundos.

Fonte: Platão no sindicato, Folha de S. Paulo, 26.03.83