Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

21 de setembro de 2013

Diferença entre doutrina e ideologia

Folha de S. Paulo – Dr. Plínio, qual é a diferença, para o Sr., entre doutrina e ideologia?

Plinio Corrêa de Oliveira – A “ideologia” é uma palavra – também ela – muito elástica. É quase uma sanfona que se pode comprimir e descomprimir à vontade. Eu julgo que há um núcleo – nos diversos sentidos da palavra ideologia – que é ao mesmo tempo uma doutrina e a mentalidade que esta doutrina forma. Isto seria “ideologia”.

O que entendo aqui como mentalidade? Uma doutrina, na medida em que ela sugere uma posição artística, uma posição temperamental, uma posição moral, uma posição no modo de relacionar-se, etc., etc., enfim, que ela forma, naqueles que a aceitam, uma determinada mentalidade, ela poderia ser considerada uma ideologia. E parece que esse é o núcleo fixo – não sei se a palavra fixo lhe agrada muito - mas é um núcleo fixo em torno das flutuações da palavra “ideologia”.

A “doutrina”, não. A doutrina é o conjunto de convicções, tiradas em abstrato, a respeito de determinada coisa.

Fonte: Entrevista à Folha de S. Paulo, 18.12.1981

Sintoma característico de declínio do espírito católico: ceder, transigir, calar, acomodar

Como a doutrina católica é a própria Verdade e o próprio Bem, não se pode amar exageradamente a Igreja. Mesmo porque quem a ama sem reservas deve amá-la como ela quer ser amada, isto é, com aquela ordenação sábia de caridade, que fazendo dela o centro de toda a vida e reconhecendo nela a fonte de todo o Bem, nem por isto, ou antes exatamente por isto, dá a cada qual o que é seu. De sorte que, quanto mais radicalmente católico se é, tanto mais se respeita, depois dos direitos de Deus, os direitos de todos os homens. Assim, não é possível que o amor entusiástico e sem limites à Igreja venha redundar em qualquer desordem. Este amor se confunde com a própria ordem.

Tal preliminar estabelecida, pode-se verificar que o sintoma mais característico do declínio do espírito católico em um povo é o declínio de seu ardor na defesa da pureza da doutrina. Quando, em um movimento católico, qualquer que ele seja, a preocupação dominante é de ceder, de transigir, de calar, de acomodar a todo o preço acomodações que entretanto não tem preço, a situação é clara: há um processo espiritual análogo à tuberculose que mina a fundo o espírito religioso. Pelo contrário, quando o movimento se destaca por seu radicalismo, isto é, por sua sede de ortodoxia completa e minuciosa, de perfeição autêntica e sem “maquillage”, de senso profundo do sobrenatural que há na Igreja, não há esperanças que não se possam nutrir a respeito de tal movimento.

Fonte: O "caso" da Guarda de Ferro, Legionário, 01.12.1940

20 de setembro de 2013

Teoria extravagante: combatem-se os grandes erros deixando-os cair no esquecimento!?

Corre mundo em nossos dias uma teoria extravagante. Toda a ideologia, quando contrariada frontalmente, com isto mesmo se desenvolve. Assim quando queremos combater uma idéia, devemos antes de tudo não a atacar de frente. A contradição age sobre as idéias como o vento sobre a brasa. Não é com vento, mas com cinza, que as brasas se apagam. Não se extinguem os grandes erros atacando-os, mas deixando-os cair no esquecimento.

Em abono desta tese, invoca-se um exemplo: o que conseguiram contra a Igreja nascente as primeiras perseguições? Excitaram apenas as convicções dos fiéis.

Não se pode negar que, em algumas circunstâncias muito especiais, o esquecimento é o melhor modo de combater certas doutrinas. Nem por isto se há de adotar, como regra comum de prudência, o princípio de que o melhor meio de extinguir incêndios consiste em os deixar lavrar à vontade, fazendo completa abstração deles.

A esta reflexão, outra se acrescenta. Os autores de maior peso da Igreja costumam afirmar que as perseguições constituíram uma provação terrível que, humanamente falando, teria dado cabo do Catolicismo. Se este não soçobrou, seu triunfo não se deve a razões humanas, mas a motivos sobrenaturais. Visto assim o problema, segue-se que, humanamente falando, a tática dos Neros e dos Calígulas não foi má: foi excelente, e tão excelente que só por milagre não atingiu seu fim.

E é lógico. Porque, do contrário, se a Igreja é uma árvore que só cresce e frondeia a golpes de machado, os grandes benfeitores do Catolicismo seriam os Neros, os Calígulas, os Stalins ou os Hitlers.

Ninguém levaria a insânia a ponto de subscrever esta tese.

Fonte: 7 dias em revista, Legionário, 17.11.1946

18 de setembro de 2013

Quinta-coluna: o misterioso e decisivo fenômeno para a derrota do bem

Esta folha [Legionário] já tem escrito muito a respeito da quinta-coluna. Mais ou menos por toda parte ela tem feito terríveis devastações, tem ela obtido para as forças totalitárias mais triunfos do que todos os tanques, todos os canhões ou todos os generais.

O que é esta quinta-coluna, misteriosa e extensa, cujos dedos mágicos e impalpáveis encontram sempre, no momento decisivo, no lugar decisivo, no posto indispensável, o homem serviçal e flexível que abre sorrateiramente as portas das mais intransponíveis fortificações, anestesia e transforma em inofensivas cobaias, os mais valentes leões de guerra e fere de sonolenta cegueira os mais dinâmicos e perspicazes estadistas? A que realidade trágica e satanicamente profunda corresponde esse grande mysterium iniquitatis?

Não causa surpresa que os fariseus tenham encontrado um Judas. Mas, que o perfil diabólico do Iscariotes se multiplique indefinidamente, espalhando-se, esgueirando-se, tramando sorrateiramente e obtendo vitórias que são verdadeiros golpes de prestidigitação, eis aí uma novidade desconcertante cujo raio de ação parece transcender a órbita dos recursos humanos.

De nossa parte, estamos certos de que o substratum humano mais profundo da quinta-coluna não é fornecido nem pelos aventureiros, nem pelos oportunistas, nem pelos traidores vulgares que a peso de ouro sacrificam seus mais sagrados deveres. Há demais trabalho, demais inteligência, demais êxito nesse vasto plano para que façamos ao oportunista a honra de o apontar como seu autor. Só um idealismo ardente e satânico como o que animava, outrora, os propagandistas da Revolução Francesa e do Comunismo, pode explicar tantas e tais vitórias.

Mas, esse pequeno punhado de idealistas de nada valeria se não encontrasse a seu serviço toda uma coorte de oportunistas, de imediatistas, de brilhantes ratés e de inconsoláveis fracassados, dispostos a tudo, prontos a tudo, a todos os riscos como a todas as infâmias, para manter a fachada ilusória de uma situação social já esboroada, de uma reputação já comprometida ou de uma tradição já maculada. Aí, nesse bas-fond humano, é que se encontram todos os agentes da quinta-coluna, todos os miseráveis que servirão de instrumentos a essa catástrofe em marcha que é o totalitarismo.

Fonte: Pearl Harbor e o Carnaval, Legionário, 15.02.1942

13 de setembro de 2013

Os sonhos deliciosos dos otimistas

O otimista desenvolve suas cogitações tipicamente assim: uma impressão pessoal, uma viva simpatia que ele experimente em relação a terceiros, lhe servem de razão suficiente para confiar nestes. E, com base nessa confiança, conceber sonhos deliciosos.

Uma mera fotografia de jornal ou de revista, ou então a simples análise fisionômica feita quando a cara de uma pessoa aparece no vídeo de uma televisão pode arrastar assim os otimistas - indivíduos, grupos ou multidões - aos atos de confiança mais temerários.

O conhecimento e a análise da biografia da pessoa em foco, de seus escritos, de seus feitos: tudo isto pouco importa. Basta ver-lhe a foto, ouvir-lhe a voz, para julgar...

Mais uma vez, é bem este o ponto fraco dos otimistas. Sem nada conhecer dos antecedentes das pessoas, têm facilidade em atribuir as mais generosas e desinteressadas intenções àqueles que lhes tenham "caído no goto".

Foi assim que multidões inteiras se entusiasmaram na década de 30, na Alemanha e fora dela, por um simples pintor de paredes que haviam "visto" e "ouvido", e que, ato continuo, lhes havia "caído no goto".

Quando tais otimistas chegam a ser muito numerosos, sejam eles nazistas, fascistas, comunistas ou de qualquer outra espécie, está aberta uma era de triunfo fácil para os demagogos e para a demagogia.

Fonte: Morto o comunismo? E o anticomunismo também?, Catolicismo, Outubro de 1989