Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

16 de outubro de 2014

Quem ainda é católico na Igreja Católica?

Se desde sua fundação até nossos dias, a Igreja considerou com horror o nudismo e se, em nossos dias, entidades eclesiásticas [o toleram ou promovem], de duas uma:

1) ou a Moral católica mudou totalmente, e então a Igreja não é infalível nem divina;

2) ou essas entidades eclesiásticas adulteram o ensino da Igreja, e por si mesmas se excluem desta.

Ora, como a primeira hipótese é de todo em todo inaceitável, a segunda se impõe.

Não tenhamos medo de ver a verdade de frente. Este tema — do nudismo — levanta uma pergunta que vai muito além (...)

É absolutamente impossível que formas de rombuda agressão sexual se tenham generalizado tanto, sem que haja muitos diretores espirituais que concedam absolvição a pessoas que, por seu modo de trajar, não poderiam recebê-la. A eles, também a pergunta deve ser feita. — Se acreditam que a Moral da Igreja mudou, como ainda se dizem católicos? E se, permitem às suas penitentes [esse modo de trajar] com que direito se inculcam como padres católicos? (...)

Mas, dirá alguém, uma pessoa não peca contra a Fé por violar um desses Mandamentos (6º e 9º). Logo, minha argumentação é sem base.

Evidentemente, não digo que peca contra a Fé. Mas quem afirma, implícita ou explicitamente, que a Moral da Igreja mudou, este sim, peca contra a Fé.

E daí uma pergunta que, também a propósito da conduta face ao comunismo e de diversos outros assuntos, pode ser feita: quem ainda é católico apostólico romano dentro desse imenso magma de milhões de pessoas — cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos — habitualmente tidos como membros da única e imperecível Igreja de Deus?

Fonte: Quem ainda é católico na Igreja Católica?, Folha de S. Paulo, 5.01.75

10 de outubro de 2014

Elemento básico da ditadura: a onipotência do Estado

Para responder com clareza a uma pergunta a que têm sido dadas tantas soluções confusas e até tendenciosas, é necessário estabelecer uma distinção entre certos elementos que se emaranham desordenadamente na idéia de ditadura, como a opinião pública a conceitua. Confundindo a ditadura em tese com o que ela tem sido in concreto em nosso século, o público entende por ditadura um estado de coisas em que um chefe dotado de poderes irrestritos governa um país. Para o bem deste, dizem uns. Para o mal, dizem outros. Mas em um e outro caso, tal estado de coisas é sempre uma ditadura.

Ora, este conceito envolve dois elementos distintos:
- onipotência do Estado;
- concentração do poder estatal em uma só pessoa.

No espírito público, parece que o segundo elemento chama mais a atenção. Entretanto, o elemento básico é o primeiro, pelo menos se entendermos por ditadura um estado de coisas em que o Poder público, suspensa qualquer ordem jurídica, dispõe a seu talante de todos os direitos. (...)

A ditadura revolucionária visa eternizar-se, viola os direitos autênticos, e penetra em todas as esferas da sociedade para as aniquilar, desarticulando a vida de família, prejudicando as elites genuínas, subvertendo a hierarquia social, alimentando de utopias e de aspirações desordenadas a multidão, extinguindo a vida real dos grupos sociais e sujeitando tudo ao Estado: em uma palavra, favorecendo a obra da Revolução.

Fonte: Revolução e Contra-Revolução, Parte I, Cap. III, pp. 26 e 28