Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

20 de janeiro de 2015

É de alta importância impedir, pela ação ideológica, que o comunismo persuada

1. Para que uma corrente ideológica, seja ela qual for, chegue a impor-se a um país de [205]* milhões de habitantes, tem de ser numerosa, ainda que minoritária. Pois com quatro gatos pingados ardendo de febre ideológica, não se consegue dominar [205] milhões de homens.

2. Essa corrente minoritária precisa ser convicta e coesa, senão se dispersará ou se dividirá, antes mesmo de alcançar o poder.

3. Alcançado o poder essa corrente não se manterá nele senão obtiver o apoio mais ou menos definido de uma parcela ainda bem maior (se bem que sempre minoritária da população).

4. Em conseqüência, a força material não é tudo. Ela tem seu papel por vezes imenso, sempre indispensável, jamais suficiente só por si — para as grandes revoluções sociais ou políticas. Além da força material — insisto — é indispensável a persuasão. Esta é que reúne os homens para manusearem as armas, esta é que os mantém dedicados e coesos. Esta é que os torna estáveis no leme. Negar tudo isto é negar a própria evidência dos fatos.

Agora, permitam-me que entre com outra seqüência de teses:

1. Se o comunismo não vence sem recrutar e unir, e não recruta nem une sem persuadir, quem se empenha em impedir que persuada, muito faz para tornar impossível que ele vença.

2. Persuadir é obra eminentemente ideológica. Pois é fazer aceitar suas próprias idéias por outrem.

3. Isto não se consegue sem uma ação ideológica. Logo, o terreno ideológico em que a TFP se situa é de alta importância na luta anticomunista.

Fonte: "Cumprimentos à senhora e seu bom esposo", Folha de S. Paulo, 17.05.1970

* valor atualizado para o início de 2015

9 de janeiro de 2015

Ao pé do presépio cada qual se deve apresentar tal qual é

Quis a Providência que o Menino Jesus recebesse a visita de três sábios - que segundo uma venerável tradição eram também Reis - e alguns pastores. Precisamente os dois extremos da escala humana dos valores. Pois o Rei está de direito no ápice do prestigio social, da autoridade política e do poder econômico. O sábio é a mais alta expressão da capacidade intelectual. O pastor se encontra, na escala dos valores, em matéria de prestigio, de poder e de ciência, no grau mínimo, no rés do chão. Ora, a graça divina, que chamou ao presépio os Reis Magos, do fundo de seus longínquos países, chamou também os pastores, do fundo de sua ignorância. A graça nada faz de errado ou incompleto. Se ela os chamou, e lhes mostrou como ir, há de lhes ter ensinado também como apresentar-se ante o Filho de Deus. E como se apresentaram eles? Bem caracteristicamente como eram. Os pastores lá foram levando seu gado, sem passar antes por Belém para uma "toilette" que disfarçasse sua condição humilde. Os Magos se apresentaram com seus tesouros, ouro, incenso e mirra, sem procurar ocultar sua grandeza a fim de não destoar do ambiente supremamente humilde em que se encontrava o Divino Infante. A piedade cristã, expressa numa iconografia abundantíssima, entendeu durante séculos, e ainda entende, que os Reis Magos se dirigiram para a gruta com todas as suas insígnias. Quer isto dizer que ao pé do presépio cada qual se deve apresentar tal qual é, sem disfarces nem atenuações. Pois há lugar para todos, grandes e pequenos, fortes e fracos, sábios e ignorantes É questão, apenas, para cada qual, de conhecer-se, para saber onde se pôr junto de Jesus.

Fonte: Apparuit benignas et humanitas Salvatoris nostri Dei, Catolicismo nº 60, Dezembro de 1955