Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

9 de janeiro de 2015

Ao pé do presépio cada qual se deve apresentar tal qual é

Quis a Providência que o Menino Jesus recebesse a visita de três sábios - que segundo uma venerável tradição eram também Reis - e alguns pastores. Precisamente os dois extremos da escala humana dos valores. Pois o Rei está de direito no ápice do prestigio social, da autoridade política e do poder econômico. O sábio é a mais alta expressão da capacidade intelectual. O pastor se encontra, na escala dos valores, em matéria de prestigio, de poder e de ciência, no grau mínimo, no rés do chão. Ora, a graça divina, que chamou ao presépio os Reis Magos, do fundo de seus longínquos países, chamou também os pastores, do fundo de sua ignorância. A graça nada faz de errado ou incompleto. Se ela os chamou, e lhes mostrou como ir, há de lhes ter ensinado também como apresentar-se ante o Filho de Deus. E como se apresentaram eles? Bem caracteristicamente como eram. Os pastores lá foram levando seu gado, sem passar antes por Belém para uma "toilette" que disfarçasse sua condição humilde. Os Magos se apresentaram com seus tesouros, ouro, incenso e mirra, sem procurar ocultar sua grandeza a fim de não destoar do ambiente supremamente humilde em que se encontrava o Divino Infante. A piedade cristã, expressa numa iconografia abundantíssima, entendeu durante séculos, e ainda entende, que os Reis Magos se dirigiram para a gruta com todas as suas insígnias. Quer isto dizer que ao pé do presépio cada qual se deve apresentar tal qual é, sem disfarces nem atenuações. Pois há lugar para todos, grandes e pequenos, fortes e fracos, sábios e ignorantes É questão, apenas, para cada qual, de conhecer-se, para saber onde se pôr junto de Jesus.

Fonte: Apparuit benignas et humanitas Salvatoris nostri Dei, Catolicismo nº 60, Dezembro de 1955

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