Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

6 de janeiro de 2022

A civilização cristã brota dos espíritos impregnados da doutrina de Nosso Senhor

Seria supérfluo entrar aqui na análise das muitas definições de civilização, apresentadas pelas várias correntes filosóficas. Em todas elas encontramos um resíduo comum, que serve para o desenvolvimento do conceito de civilização todas as manifestações do espírito humano. Os fenômenos de caráter econômico, político, social e artístico só podem ser considerados como expressivos de uma civilização na medida com que refletem uma tendência, uma atitude ou uma definição do espírito humano.

Por isto, uma civilização cristã é aquela que brota dos espíritos profundamente impregnados da doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, como esta doutrina é, antes de tudo e essencialmente uma civilização, é impossível existir uma civilização cristã na qual os homens não professem a religião de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Entretanto, a Religião de Nosso Senhor Jesus Cristo não pode ser toda e qualquer religião que se diga ou pretenda cristã. Se de fato Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu uma só Igreja verdadeira, só será plenamente cristão o povo que a ela pertencer. Católicos, em tudo dóceis à Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana, consideramos heréticas e dignas de anátema as igrejas dissidentes, que ela fulminou com sua condenação.

Isto nos leva a uma conclusão de capital importância: o Brasil só será real e genuinamente cristão sendo católico, apostólico, romano. E, portanto, nossa civilização, só continuará cristã se o Brasil continuar dentro do aprisco da Santa Igreja Romana.

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Ser católico consiste em crer e praticar a [doutrina da] Santa Madre Igreja Católica, Apostólica Romana. E a Igreja não manda crer apenas os artigos do Credo, ela impõe que aceitemos na íntegra toda a sua doutrina, incluindo as conseqüências de caráter político, econômico e social que tal doutrina envolve; o que implica em afirmar que a condição essencial para que qualquer país tenha a civilização cristã consiste em que ele receba a doutrina da Igreja em sua plenitude.

Fonte: "Civilização Cristã", Legionário nº 546, 24 de janeiro de 1943

O fim do ano, o Juízo e as conjecturas prováveis

Está encerrado [mais um] ano. E impõe-se a velha e quase diríamos gastíssima praxe do retrospecto, seguido de um olhar ansiosamente interrogativo para [o ano que entra]. Seria inútil tentar fugir a essa praxe, por mais rotineira que pareça. Ela nasce da própria profundeza da ordem natural das coisas. Foi Deus que criou o tempo, e quis que, para os homens, fosse ele dividido em anos. Esta duração anual, unidade sempre igual a si mesma, é admiravelmente proporcionada à extensão da existência humana e ao ritmo dos acontecimentos terrenos. Quis a Providência que a inexorável cadência dos anos proporcionasse aos homens, nos dias que servem de ponte entre o ano velho e o ano novo, a ocasião para um exame atento de tudo quanto neles e em torno deles se foi mudando, para uma análise serena e objetiva dessas mudanças, para uma crítica dos métodos e rumos velhos, para a fixação de métodos e rumos novos, para uma reafirmação dos métodos e dos rumos que não podem nem devem mudar.

De algum modo, pois, cada fim de ano se parece com um Juízo, em que tudo deve ser medido, contado e pesado, para a rejeição do que foi mau, a confirmação do que foi bom, e o ingresso em uma etapa nova.

A praxe dos retrospectos e das conjeturas de fim e começo de ano é, pois, iniludível.

Conformando-nos com esta disposição da Providência, escrita na própria ordem natural das coisas, entreguemo-nos ainda uma vez, sob o olhar de Maria, a esta tarefa de medir, pesar e prognosticar. Prognosticar, sim. Pois se habitualmente Deus a ninguém revela o futuro, a mente alguma deu o dom de fazer por si mesma prognósticos infalíveis, quis entretanto que o intelecto do homem tivesse o lume suficiente para estabelecer conjeturas prováveis, que podem servir de elemento precioso para a direção das atividades humanas.

Fonte: "Ide e construí um mundo novo!", Catolicismo nº 97, janeiro de 1959