Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

6 de janeiro de 2022

O fim do ano, o Juízo e as conjecturas prováveis

Está encerrado [mais um] ano. E impõe-se a velha e quase diríamos gastíssima praxe do retrospecto, seguido de um olhar ansiosamente interrogativo para [o ano que entra]. Seria inútil tentar fugir a essa praxe, por mais rotineira que pareça. Ela nasce da própria profundeza da ordem natural das coisas. Foi Deus que criou o tempo, e quis que, para os homens, fosse ele dividido em anos. Esta duração anual, unidade sempre igual a si mesma, é admiravelmente proporcionada à extensão da existência humana e ao ritmo dos acontecimentos terrenos. Quis a Providência que a inexorável cadência dos anos proporcionasse aos homens, nos dias que servem de ponte entre o ano velho e o ano novo, a ocasião para um exame atento de tudo quanto neles e em torno deles se foi mudando, para uma análise serena e objetiva dessas mudanças, para uma crítica dos métodos e rumos velhos, para a fixação de métodos e rumos novos, para uma reafirmação dos métodos e dos rumos que não podem nem devem mudar.

De algum modo, pois, cada fim de ano se parece com um Juízo, em que tudo deve ser medido, contado e pesado, para a rejeição do que foi mau, a confirmação do que foi bom, e o ingresso em uma etapa nova.

A praxe dos retrospectos e das conjeturas de fim e começo de ano é, pois, iniludível.

Conformando-nos com esta disposição da Providência, escrita na própria ordem natural das coisas, entreguemo-nos ainda uma vez, sob o olhar de Maria, a esta tarefa de medir, pesar e prognosticar. Prognosticar, sim. Pois se habitualmente Deus a ninguém revela o futuro, a mente alguma deu o dom de fazer por si mesma prognósticos infalíveis, quis entretanto que o intelecto do homem tivesse o lume suficiente para estabelecer conjeturas prováveis, que podem servir de elemento precioso para a direção das atividades humanas.

Fonte: "Ide e construí um mundo novo!", Catolicismo nº 97, janeiro de 1959


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