Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

25 de março de 2015

Contra a ditadura do não-pensamento

Quem concebe um país unicamente como um conjunto de classes profissionais, e nada mais, pensa que viver é só trabalhar. Ora, tal pensamento, em lugar de ser uma verdade óbvia, é um erro para além de óbvio. Se o homem trabalha, é para um fim. Que fim é esse? Depende da idéia que ele tenha formado do que seja esta vida. Como o trabalho é mero meio para alcançar este fim, ele vale menos do que esse fim. Pensar, e por meio do pensamento conquistar a Verdade, amá-LA, servi-LA, eis o grande fim da vida.

A Verdade? Sim, e com "V" maiúsculo. A Verdade, personificada naquele que disse de Si: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo. 14,6).

Uma concepção a-filosófica e a-religiosa da sociedade, meramente econômica e profissionalista, dá origem ao grande desespero das multidões contemporâneas. Ontem estas se esbaldavam para fazer capital, hoje para fazer revolução, e já amanhã para se atirarem no bueiro do miserabilismo niilista, isto é, na glorificação do andrajo e da miséria, da sujeira, do desmazelo e do caos.

Queira-se ou não, mais do que Mamon, é o pensamento que conduz os homens.

Assim, é necessário não só que as profissões se organizem, mas também que surjam opiniões (fagulhas de pensamento a chispear no ambiente hoje tão analfabetizado e pornografizado da vida social). E que essas opiniões se organizem. Que reunam em vastas associações, das mais diversas naturezas, todos os homens para quem pensar ainda é algo. E que estas associações façam sentir ainda sua presença colaborante, estimulante, mas também vigilante, nos corredores dos Legislativos do Brasil. Sou contra o livre-pensamento. Mas também contra o não-pensamento.

Fonte: "O tufão do contrapensamento", Folha de S. Paulo, 11.02.1983

24 de março de 2015

Interrogai o silêncio, e ele nada vos responderá

O revolucionário, em via de regra, é petulante, verboso e afeito à exibição, quando não tem adversários diante de si, ou os tem fracos. Contudo, se encontra quem o enfrente com ufania e arrojo, ele se cala e organiza a campanha de silêncio. Um silêncio em meio ao qual se percebe o discreto zumbir da calúnia, ou algum murmúrio contra o “excesso de lógica” do adversário, sim. Mas um silêncio confuso e envergonhado que jamais é entrecortado por alguma réplica de valor. Diante desse silêncio de confusão e derrota, poderíamos dizer ao contra-revolucionário vitorioso as palavras espirituosas escritas por Veuillot em outra ocasião: “Interrogai o silêncio, e ele nada vos responderá”.

Fonte: Revolução e Contra-Revolução, Parte II, Cap. V 3. B

20 de março de 2015

Divórcio entre o mundo político e a sociedade

Continua tudo como dantes... Foi a expressão que afluiu aos lábios de muita gente, depois da solução da última crise política, não sem muita amargura e sem um ceticismo cada vez maior.

Não há razão para tanto desespero que muitos não conseguem reprimir. Basta ter sido um observador sereno da política brasileira, para não alimentar ingenuamente algumas ilusões que, quando desfeitas, provocam certo desânimo.

De fato, qual tem sido, até hoje, a característica principal dos métodos políticos de nossa terra senão o personalismo mais primitivo e feroz, e uma ausência completa de idéias e programas? Tudo quanto, durante o Império ou a República, tem aparecido por aí, com os rótulos de federalismo, civilismo, voto secreto, são aspirações vagas, imprecisas, mal coordenadas, que os políticos exploram a seu favor, sem um corpo de doutrina, um programa dentro do qual se encaixem e se justifiquem. Em última análise, todas as lutas políticas, em nosso País, se resumem na conquista do Poder pelo Poder, ou melhor, pelas vantagens do Poder...

Faz-se uma propaganda eleitoral, faz-se uma revolução, e ao cabo de uma ou de outra, vença ou não vença, a situação é a mesma...

Não vemos para já, no cenário político brasileiro, outra perspectiva senão esta: a dos partidos do Governo, montados através da vasta rede do municipalismo, e a dos partidos de oposição, a declamarem nos ouvidos do povo as eternas cantilenas dos descontentes, com o fim único de arrancar as rédeas do Poder a quem as tenha.

Oliveira Viana conta que um biógrafo de Hamilton observa que os verdadeiros estadistas praticam a política de colméia, procurando tudo subordinar ao interesse coletivo, enquanto os falsos “políticos” praticam a política da abelha, na qual tudo se subordina ao interesse individual.

Destes “políticos” temos tido; mas estadistas realmente não. O Poder Público é transformado num cargo rendoso, numa verdadeira profissão, e não num ônus pesado e cheio de responsabilidades de quem deve olhar para o interesse da nação e promover o bem comum, em vez de procurar colocar bem a sua gente e o seu partido.

Os partidos políticos são verdadeiras tribos que se digladiam.

Quem pretenda realizar idéias terá todas as dificuldades do semeador que espera frutos das sementes lançadas no deserto...

Fonte: "Política de abelha", Legionário, nº 138, 4.02.1934