Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

18 de novembro de 2014

Autodemolição: diabólico estratagema

Nada haverá de injusto em que nosso século venha a ser cognominado pela História de "século do bluff". É que a impiedade e o comunismo resolveram demolir as últimas resistências deste pobre e cambaleante Ocidente, recorrendo, em proporções até aqui desconhecidas, ao diabólico estratagema de utilizar na demolição pessoas fadadas por todos os títulos a serem defensoras impertérritas da ordem cristã.

Teólogos ateus ou quase tanto, Príncipes cujo socialismo importa na aceitação dos erros fundamentais do comunismo, burgueses comuno-progressistas que lutam rijamente pela reforma comunitária e socialista da empresa, líderes rurais que fazem quanto podem em favor da reforma agrária espoliativa, são chagas que outrora constituíam exceção e em nosso tempo se vão multiplicando com uma celeridade impressionante.

Fonte: Um grande "bluff" do século dos "bluffs", Catolicismo, nº 194, Fevereiro de 1967 (Ambientes, Costumes, Civilizações)

9 de novembro de 2014

Imensa cartada política: derrubada da Cortina de Ferro e do Muro de Berlim

No ocaso do ano de 1989, aos supremos dirigentes do comunismo internacional, pareceu afinal chegado o momento de lançar uma imensa cartada política, a maior da história do comunismo. Esta consistiria em derrubar a cortina de ferro e o Muro de Berlim, o que, produzindo seus efeitos de forma simultânea à execução dos programas “liberalizantes” da glasnost (1985) e da perestroika (1986), precipitaria o aparente desmantelamento da III Revolução no mundo soviético.

Por sua vez, tal desmantelamento atrairia para seu supremo promotor e executor, Mikhail Gorbachev, a simpatia enfática e a confiança sem reservas das potências econômicas estatais e de muitos dos poderes econômicos privados do Primeiro Mundo.

A partir disto, o Kremlin poderia esperar um fluxo assombroso de recursos financeiros a favor de suas vazias arcas. Essas esperanças foram muito amplamente confirmadas pelos fatos, proporcionando a Gorbachev e à sua equipe a possibilidade de continuar flutuando, com o timão na mão, sobre o mar de miséria, de indolência e de inação, em face do qual a infeliz população russa, sujeita até há pouco ao capitalismo de Estado integral, vai se havendo, até o momento, com uma passividade desconcertante. Passividade esta propícia à generalização do marasmo, do caos, e quiçá à formação de uma crise conflitual interna suscetível, por sua vez, de degenerar em uma guerra civil... ou mundial.

Foi neste quadro que irromperam os sensacionais e brumosos acontecimentos de agosto de 1991, protagonizados por Gorbachev, Yeltsin e outros co-autores dessa jogada, que abriram caminho à transformação da URSS numa frouxa confederação de Estados e depois ao seu desmantelamento.

Fala-se da eventual queda do regime de Fidel Castro em Cuba e da possível invasão da Europa Ocidental por hordas de famintos vindos do Leste e do Magreb. As diversas tentativas de incursão de desvalidos albaneses na Itália teriam sido como que um primeiro ensaio desta nova “invasão de bárbaros” na Europa.

Não falta quem, na Península Ibérica como em outros países da Europa, veja estas hipóteses em um comum panorama com a ação de presença de multidões de maometanos, despreocupadamente admitidos em anos anteriores em vários pontos desse continente, e com os projetos de construção de uma ponte sobre o Estreito de Gibraltar, ligando o Norte da África ao território espanhol, o que favoreceria por sua vez mais outras invasões muçulmanas na Europa.

Curiosa semelhança de efeitos da derrubada da cortina de ferro e da construção dessa tal ponte: ambas abririam o continente europeu para invasões análogas às que Carlos Magno repeliu vitoriosamente, isto é, as de hordas bárbaras ou semibárbaras vindas do leste e hordas maometanas provenientes de regiões ao Sul do continente europeu.

Dir-se-ia quase que o quadro pré-medieval se recompõe. Mas algo falta: é o ardor de fé primaveril nas populações católicas chamadas a fazer frente simultaneamente a estes dois impactos. Mas, sobretudo, falta alguém: onde encontrar hoje em dia um homem com o estofo de Carlos Magno?

Se imaginarmos o desenvolvimento das hipóteses acima enunciadas, cujo principal cenário seria o Ocidente, sem dúvida nos assombrarão a magnitude e a dramaticidade das conseqüências que as mesmas trariam consigo.

Entretanto, esta visão de conjunto nem de longe abarca a totalidade dos efeitos que vozes autorizadas, procedentes de círculos intelectuais sensivelmente opostos entre si e de imparciais órgãos de comunicação, nos anunciam nestes dias.

Por exemplo, a crescente oposição entre países consumidores e países pobres. Ou, em outros termos, entre nações ricas industrializadas e outras que são meras produtoras de matérias-primas.

Nasceria daí um entrechoque de proporções mundiais entre ideologias diversas, agrupadas, de um lado em torno do enriquecimento indefinido, e de outro do subconsumo miserabilista. À vista desse eventual entrechoque, é impossível não recordar a luta de classes preconizada por Marx. E daí surge naturalmente uma pergunta: será essa luta uma projeção, em termos mundiais, de um embate análogo ao que Marx concebeu sobretudo como um fenômeno sócio-econômico dentro das nações, conflito este no qual participaria cada uma destas com características próprias?

Nessa hipótese, a luta entre o Primeiro Mundo e o Terceiro passará a servir de camuflagem mediante a qual o marxismo, envergonhado de seu catastrófico fracasso sócio-econômico e metamorfoseado, trataria de obter, com renovadas possibilidades de êxito, a vitória final? Vitória essa que, até o momento, escapou das mãos de Gorbachev, o qual, embora certamente não seja o doutor, é pelo menos uma mescla de bardo e de prestidigitador da perestroika...

Da perestroika, sim, da qual não é possível duvidar que seja um requinte do comunismo, pois o confessa seu próprio autor no ensaio propagandístico “Perestroika – Novas idéias para o meu país e o mundo” (Ed. Best Seller, São Paulo, 1987, p. 35): “A finalidade desta reforma é garantir .... a transição de um sistema de direção excessivamente centralizado e dependente de ordens superiores para um sistema democrático baseado na combinação de centralismo democrático e autogestão”. Autogestão esta que, de mais a mais, era “o objetivo supremo do Estado soviético”, segundo estabelecia a própria Constituição da ex-URSS em seu Preâmbulo.

Fonte: Revolução e Contra-Revolução, parte III, cap. II, 1. B