Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

24 de abril de 2014

E o comunismo? O que é feito dele?

E o comunismo? O que é feito dele? A forte impressão de que ele morrera apoderou-se da maior parte da opinião pública do Ocidente, deslumbrada ante a perspectiva de uma paz universal de duração indeterminada. Ou quiçá de uma duração perene, com o conseqüente desaparecimento do terrível fantasma da hecatombe nuclear mundial.

Esta “lua de mel” do Ocidente com seu suposto paraíso de desanuviamento e de paz, vem refulgindo gradualmente menos.

Com efeito, referimo-nos pouco atrás às agressões de toda ordem que relampagueiam nos territórios da finada URSS. Cabe-nos, pois, perguntar se o comunismo morreu. De início, as vozes que punham em dúvida a autenticidade da morte do comunismo foram raras, isoladas e escassas em fundamentação.

Aos poucos, de cá e de lá, sombras foram aparecendo no horizonte. Em nações da Europa Central e dos Bálcãs, como do próprio território da ex-URSS, foi-se notando que os novos detentores do Poder eram figuras de destaque do próprio Partido Comunista local. Exceto na Alemanha Oriental, a caminhada para a privatização na maioria das vezes se vem fazendo muito mais na aparência do que na realidade, isto é, a passos de cágado, lentos e sem rumo inteiramente definido.

Ou seja, pode-se dizer que nesses países o comunismo morreu? Ou que ele entrou simplesmente num complicado processo de metamorfose? Dúvidas a este respeito se vêm avolumando, enquanto os últimos ecos da alegria universal pela suposta queda do comunismo se vêm apagando discretamente.

Quanto aos partidos comunistas das nações do Ocidente, murcharam de modo óbvio, ao estampido das primeiras derrocadas na URSS. Mas já hoje vários deles começam a se reorganizar com rótulos novos. Esta mudança de rótulo é uma ressurreição? Uma metamorfose? Inclino-me de preferência por esta última hipótese. Certezas, só o futuro as poderá dar.

Esta atualização do quadro geral em função do qual o mundo vai tomando posição, pareceu-me indispensável como tentativa de pôr um pouco de clareza e de ordem num horizonte em cujos quadrantes o que cresce principalmente é o caos. Qual é o rumo espontâneo do caos senão uma indecifrável acentuação de si próprio?

Fonte: Revolução e Contra-Revolução, Posfácio de 1992

22 de abril de 2014

Se algum dia o Brasil for grande, selo-á para bem do mundo inteiro

Talvez não fosse ousado afirmar que Deus colocou os povos de sua eleição em panoramas adequados à realização dos grandes destinos a que os chama. E não há quem, viajando por nosso Brasil, não experimente a confusa impressão de que Deus destinou para teatro de grandes feitos esse País cujas montanhas trágicas e misteriosas penedias parecem convidar o homem às supremas afoitezas do heroísmo cristão, cujas verdejantes planícies parecem querer inspirar o surto de novas escolas artísticas e literárias, de novas formas e tipos de belezas, e na orla de cujo litoral os mares parecem cantar a glória futura de um dos maiores povos da Terra.

Quando nosso poeta cantava que "nossa terra tem palmeiras onde canta o sabiá, e que as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá", percebeu, talvez confusamente, que a Providência depositou na natureza brasileira a promessa de um porvir igual ao dos maiores povos da Terra.

E hoje, que o Brasil emerge de sua adolescência para a maturidade, e titubeia nas mãos da velha Europa o cetro da cultura cristã, que o totalitarismo quereria destruir, aos olhos de todos se patenteia que os países católicos da América são na realidade o grande celeiro da Igreja e da Civilização, o terreno fecundo onde poderão reflorir com brilho maior do que nunca as plantas que a barbárie devasta no velho mundo. A América inteira é uma constelação de povos irmãos. Nessa constelação, inútil é dizer que as dimensões materiais do Brasil são uma figura da magnitude de seu papel providencial.

Tempo houve em que a História do mundo se pode intitular Gesta Dei per Francos. Dia virá em que se escreverá Gesta Dei per brasilienses.

A missão providencial do Brasil consiste em crescer dentro de suas próprias fronteiras, em desdobrar aqui os esplendores de uma civilização genuinamente Católica, Apostólica, Romana, e em iluminar amorosamente todo o mundo com o facho desta grande luz, que será verdadeiramente o lumen Christi que a Igreja irradia. Nossa índole meiga e hospitaleira, a pluralidade das raças que aqui vivem em fraternal harmonia, o concurso providencial dos imigrantes que tão intimamente se inseriram na vida nacional, e mais do que tudo as normas do Santo Evangelho, jamais farão de nossos anseios de grandeza um pretexto para jacobinismos tacanhos, para racismos estultos, para imperialismos criminosos. Se algum dia o Brasil for grande, selo-á para bem do mundo inteiro.

"Sejam entre Vós os que governam como os que obedecem", diz o Redentor. O Brasil não será grande pela conquista, mas pela Fé; não será rico pelo dinheiro tanto quanto pela generosidade. Realmente, se soubermos ser fiéis à Roma dos Papas, poderá nossa cidade ser uma nova Jerusalém, de beleza perfeita, honra, glória e gáudio do mundo inteiro.

Aqui mesmo encontrais disto, Senhores, um formoso símbolo. Pela primeira vez arderá em uma cerimônia pública o incenso nacional. Pela primeira vez um órgão inteiramente nacional tem deliciado nossos ouvidos. Mas esse incenso queimará nos altares de uma Religião que é Universal, e esse órgão fará ecoar as melodias da Igreja na língua-mater de toda a cultura do mundo. Nada poderia dizer melhor do verdadeiro sentido de nosso nacionalismo, ou, posta de lado essa palavra tantas vezes mal empregada, de nosso patriotismo.

"Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Explorai, Senhores do Poder Temporal, as riquezas de nossa terra; estruturai segundo as máximas da Igreja, que são a essência da civilização cristã, todas as nossas instituições civis. Auxiliai quanto em Vós estiver, a Santa Igreja de Deus a que plasme a alma nacional na vida da graça, para a glória do céu. Fazei do Brasil uma pátria próspera, organizada e pujante, enquanto a Igreja fará do povo brasileiro um dos maiores povos da História. Na harmonia desta mesma obra está a predestinação de uma íntima cooperação entre dois poderes. Deus jamais é tão bem servido, quanto se César se porta como seu filho. E, Senhores, em nome dos católicos do Brasil, eu vo-lo afianço, César jamais é tão grande, como quanto é filho de Deus.

Nessa colaboração está o segredo de nosso progresso e nela vossa parte é verdadeiramente magnífica.

Trabalhai, senhores, trabalhai neste sentido. Tereis a cooperação entusiástica de todos os nossos recursos, de todos os nossos corações, de todo o nosso fervor. E quando algum dia Deus Vos chamar à vida eterna, tereis a suprema ventura de contemplar um Brasil imensamente grande e profundamente cristão, sobre o qual o Cristo do Corcovado, com seus braços abertos, poderá dizer aquilo que é o supremo título de glória de um povo cristão. Executai o programa de Governo que consiste em procurar antes o reino de Deus e sua justiça, que todas as coisas lhes serão dadas por acréscimo.

Em um Brasil imensamente rico, vereis florescer um povo imensamente rico, vereis florescer um povo imensamente grande, porque dele se poderá dizer:

Bem-aventurado este povo sóbrio e desapegado, no esplendor embora de sua riqueza, porque dele é o reino dos céus.

Bem-aventurado este povo generoso e acolhedor, que ama a paz mais do que as riquezas, porque ele possui a terra.

Bem-aventurado este povo de coração sensível ao amor e às dores do Homem-Deus, às dores e ao amor de seu próximo, porque nisto mesmo encontrará sua consolação.

Bem-aventurado este povo varonil e forte, intrépido e corajoso, faminto e sedento das virtudes heróicas e totais, porque será saciado em seu apetite de santidade e grandeza sobrenatural.

Bem-aventurado este povo misericordioso, porque ele alcançará misericórdia.

Bem-aventurado este povo casto e limpo de coração, bem aventurada a inviolável pureza de suas famílias cristãs, porque verá a Deus.

Bem-aventurado este povo pacífico, de idealismo limpo de jacobismos e racismos, porque será chamado filho de Deus.

Bem-aventurado este povo que leva seu amor à Igreja a ponto de lutar e sofrer por ele, porque dele é o reino dos céus.

Fonte: Discurso na sessão de encerramento no IV Congresso Eucarístico Nacional, 07.09.1942


19 de abril de 2014

A História do mundo: luta inexorável entre os que são da Virgem e os que são da serpente

A impiedade escolheu para Vós, meu Senhor, o pior dos tormentos finais. O pior, sim, pois que é o que faz morrer lentamente, o que produz sofrimentos maiores, o que mais infamava, porque era reservado aos criminosos mais abjetos. Tudo foi aparelhado pelo inferno para Vos fazer sofrer, quer na alma, quer no corpo. Este ódio imenso não contém para mim alguma lição? Ai de mim, que jamais a compreenderei suficientemente se não chegar a ser santo. Entre Vós e o demônio, entre o bem e o mal, entre a verdade e o erro, há um ódio profundo, irreconciliável, eterno. As trevas odeiam a luz, os filhos das trevas odeiam os filhos da luz, a luta entre uns e outros durará até a consumação dos séculos, e jamais haverá paz entre a raça da Mulher e a raça da Serpente... Para que se compreenda a extensão incomensurável, a imensidade deste ódio, contemple-se tudo quanto ele ousou fazer. É o Filho de Deus que aí está, transformado, na frase da Escritura, em um leproso no qual nada existe de são, num ente que se contorce como um verme sob a ação da dor, detestado, abandonado, pregado numa cruz entre dois vulgares ladrões. O Filho de Deus: que grandeza infinita, inimaginável, absoluta, se encerra nestas palavras! Eis, entretanto, o que o ódio ousou contra o Filho de Deus!

E toda a História do mundo, toda a História da Igreja não é senão esta luta inexorável entre os que são de Deus e os que são do demônio, entre os que são da Virgem e os que são da serpente. Luta na qual não há apenas equívoco da inteligência, nem só fraqueza, mas também maldade, maldade deliberada, culpada, pecaminosa, nas hostes angélicas e humanas que seguem a Satanás.

Eis o que precisa ser dito, comentado, lembrado, acentuado, proclamado, e mais uma vez lembrado aos pés da Cruz. Pois que somos tais, e o liberalismo a tal ponto nos desfigurou, que estamos sempre propensos a esquecer este aspecto imprescindível da Paixão.

Conhecia-o bem a Virgem das Virgens, a Mãe de todas as dores, que junto de seu Filho participava da Paixão. Conhecia-o bem o Apóstolo virgem que aos pés da Cruz recebeu Maria como Mãe, e com isto teve o maior legado que jamais foi dado a um homem receber. Porque há certas verdades que Deus reservou para os puros, e nega aos impuros.

Minha Mãe, no momento em que até o bom ladrão mereceu perdão, pedi que Jesus me perdoe toda a cegueira com que tenho considerado a obra das trevas que se trama em redor de mim.

Fonte: Via Sacra, XI Estação, Catolicismo nº 3, março de 1951

17 de abril de 2014

A Igreja, sofredora, perseguida, vilipendiada, aí está a nossos olhos indiferentes ou cruéis

A verdadeira piedade deve impregnar toda a alma humana, e, portanto, também deve despertar e estimular a emoção. Mas a piedade não é só emoção, e nem mesmo é principalmente emoção. A piedade brota da inteligência, seriamente formada por um estudo catequético cuidadoso, por um conhecimento exato de nossa Fé, e, portanto, das verdades que devem reger nossa vida interior. A piedade reside ainda na vontade. Devemos querer seriamente o bem que conhecemos. Não nos basta, por exemplo, saber que Deus é perfeito. Precisamos amar a perfeição de Deus, e, portanto, devemos desejar para nós algo dessa perfeição: é o anseio para a santidade. "Desejar" não significa apenas sentir veleidades vagas e estéreis. Só queremos seriamente algo, quando estamos dispostos a todos os sacrifícios para conseguir o que queremos. Assim, só queremos seriamente nossa santificação e o amor de Deus, quando estamos dispostos a todos os sacrifícios para alcançar esta meta suprema. Sem esta disposição, todo o "querer" não é senão ilusão e mentira. Podemos ter a maior ternura na contemplação das verdades e mistérios da Religião: se daí não tirarmos resoluções sérias, eficazes, de nada valerá nossa piedade.

É o que se deve dizer especialmente nos dias da Paixão de Nosso Senhor. Não nos adianta apenas o acompanhar com ternura os vários episódios da Paixão: isto seria excelente, não porém suficiente. Devemos dar a Nosso Senhor, nestes dias, provas sinceras de nossa devoção e amor.

Estas provas, nós as damos pelo propósito de emendar nossa vida, e de lutar com todas as forças pela Santa Igreja Católica.

A Igreja é o Corpo Místico de Cristo. Quando Nosso Senhor interpelou São Paulo, no caminho de Damasco, perguntou-lhe: "Saulo, Saulo, por que me persegues?". Saulo perseguia a Igreja. Nosso Senhor lhe dizia que era a Ele mesmo que Saulo perseguia.

Se perseguir a Igreja é perseguir a Jesus Cristo, e se hoje também a Igreja é perseguida, hoje Cristo é perseguido. A Paixão de Cristo se repete de algum modo também em nossos dias.

Como se persegue a Igreja? Atentando contra os seus direitos ou trabalhando para dela afastar as almas. Todo o ato pelo qual se afasta da Igreja uma alma é um ato de perseguição a Cristo. Toda a alma é, na Igreja, um membro vivo. Arrancar uma alma à Igreja é arrancar um membro ao Corpo Místico de Cristo. Arrancar uma alma à Igreja é fazer a Nosso Senhor, em certo sentido, o mesmo que a nós nos fariam se nos arrancassem a menina dos olhos.

Se queremos, pois, condoer-nos com a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, meditemos sobre o que Ele sofreu na mão dos judeus, mas não nos esqueçamos de tudo quanto ainda hoje se faz para ferir o Divino Coração.

E isto tanto mais quanto Nosso Senhor, durante Sua Paixão, previu tudo quanto se passaria depois. Previu, pois, todos os pecados de todos os tempos, e também os pecados de nossos dias. Ele previu os nossos pecados, e por eles sofreu antecipadamente. Estivemos presentes no Horto como algozes, e como algozes seguimos passo a passo a Paixão até o alto do Gólgota.

Arrependamo-nos, pois, e choremos.

A Igreja, sofredora, perseguida, vilipendiada, aí está a nossos olhos indiferentes ou cruéis. Ela está diante de nós como Cristo diante de Verônica. Condoamo-nos com os padecimentos dela. Com nosso carinho, consolemos a Santa Igreja de tudo quanto Ela sofre. Podemos estar certos de que, com isto, estaremos dando ao próprio Cristo uma consolação idêntica à que Lhe deu Verônica.

Fonte: Reflexões durante a Semana Santa, O Legionário, 30.03.1947

15 de abril de 2014

Missão da Hierarquia no combate ao comunismo: dois princípios básicos

Recordemos dois princípios de importância transcendental:

a ) O comunismo enquanto adversário da Igreja. – Por suas metas, métodos e táticas, o comunismo é uma força internacional que trabalha para a completa destruição da Igreja e do que resta de Civilização Cristã. E o faz tão eficazmente que a destruiria no próprio dia de hoje se não fosse a assistência divina prometida à Igreja imortal. A vigilância e a combatividade de todos os católicos – e portanto também da Hierarquia – se devem empenhar antes de tudo na luta até a final derrota deste adversário.

À Hierarquia eclesiástica toca, pois, ser eminentemente anticomunista, isto é, compete-lhe instruir e formar os fiéis contra o comunismo, denunciando e refutando os erros deste, mostrando-lhes quanto são perniciosos e dignos de execração, e incitando-os a engajar na luta contra o comunismo toda a sua influência, seu tempo e sua dedicação.

Compete igualmente à Hierarquia dar seu mais decidido apoio e estímulo às organizações públicas ou privadas que lutam contra o comunismo, pois são aliadas naturais da Igreja.

b ) O comunismo é também o inimigo máximo de todas as pátrias, pois prega a absorção de todas elas em uma república universal utópica. E também porque a cultura, a ordem política, social e econômica deduzidas da doutrina comunista são diametralmente opostas à verdade. De onde decorre que, na medida em que o comunismo se vai apossando das mentes e influenciando a vida de um país, nesta mesma medida lhe vai aniquilando as forças, perturbando os rumos e desordenando a vida. A experiência dos países dominados pelo comunismo o comprova.

Um êxito da ação comunista em determinado país pode ser mais perigoso para a sobrevivência e a grandeza deste, do que o êxito de algum exército invasor.

A Hierarquia católica tem o grave dever de ajudar com todas as forças o país confiado a seu pastoreio, em caso de agressão estrangeira. Ela o tem a fortiori ante a penetração comunista, doutrinária ou à mão armada.

Fonte: A Igreja ante a escalada da ameaça comunista, 1976, pp. 35-36

1 de abril de 2014

Dia virá em que se falará em cinismo soviético

A URSS levanta o facho da discórdia. No Ocidente, o que faz? Deglute pacificamente a Europa centro-oriental. Só isto? Não. Clama contra o monopólio da bomba atômica. Haverá maior cinismo do que este? Hoje, fala-se em cortesia francesa, pontualidade britânica, cavalheirismo espanhol, etc., etc. Dia virá em que se falará também em cinismo soviético. Cinismo pasmoso, na verdade, que só teve um "símile" no mundo: o cinismo nazista.

7 dias em revista, Legionário, 25.11.1945