Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.
Mostrando postagens com marcador Judas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Judas. Mostrar todas as postagens

2 de abril de 2015

Nesta época de terrível surdez espiritual, não endureçamos nossos corações

Quando foi preso, Nosso Senhor praticou duas ações aparentemente contraditórias, e é sobre esta contradição que queremos meditar.

A contradição se resume em poucas palavras. De um lado, falou tão alto, atordoou tanto os ouvidos, que os esbirros caíram por terra. De outro lado, abaixou-Se Ele mesmo até o chão, para tomar uma orelha, e a recolocar novamente no lugar. O Mesmo que aterroriza, consola. O Mesmo que fala com voz insuportável para os tímpanos, reintegra uma orelha cortada. Não há nisto, para nós, algum ensinamento?

Nosso Senhor é sempre infinitamente bom, e foi bom quando disse aos que O procuravam, que era Ele Jesus de Nazaré, a quem queriam, como foi bom quando consertou a orelha de Malco. Se queremos ser bons, devemos imitar a bondade de Nosso Senhor, e aprender com Ele, que há momentos em que é preciso saber prostrar por terra com santa energia os inimigos da Fé, como há ocasiões em que é preciso saber curar os próprios males daqueles que nos fazem mal.

Por que falou Nosso Senhor tão alto, quando respondeu "Ego Sum"? Só para atordoar fisicamente os que O prendiam? Mas para quê se Ele Se entregava voluntariamente à prisão? É que Ele falou ainda mais alto a seus corações, do que a seus ouvidos, e se lhes falou alto aos ouvidos, não foi senão para lhes falar ainda mais alto aos corações. Não sabemos qual foi o proveito que aqueles homens fizeram da graça que receberam. Mas certamente o temor que tiveram, quando tombaram à voz do Mestre, lhes foi salutar como foi salutar a Saulo, quando a mesma Voz lhe gritou "Saulo, Saulo, por que Me persegues?"

Nosso Senhor lhes falou alto aos ouvidos. Prostrou-os por terra. Mas sua voz que abatia corpos e ensurdecia ouvidos, erguia almas que estavam prostradas, e lhes abria os ouvidos dos espíritos, que estavam surdos.

Às vezes, pois, para curar é preciso gritar.

Com Malco, Nosso Senhor procedeu de outra maneira. Quando lhe restituiu a orelha cortada pela fogosidade de Pedro, Nosso Senhor certamente lhe queria fazer um bem temporal. Mas curando-lhe o ouvido, Nosso Senhor lhe quis sobretudo abrir o ouvido da alma. E Ele mesmo que a uns curara da surdez espiritual com o estrondejar divino da sua voz, Ele mesmo curou da mesma surdez espiritual a Malco, dizendo-lhe palavras de bondade, e restituindo-lhe a orelha que perdera.

Fonte: "A hora do beijo", Legionário, nº 659, 25.03.1945

18 de setembro de 2013

Quinta-coluna: o misterioso e decisivo fenômeno para a derrota do bem

Esta folha [Legionário] já tem escrito muito a respeito da quinta-coluna. Mais ou menos por toda parte ela tem feito terríveis devastações, tem ela obtido para as forças totalitárias mais triunfos do que todos os tanques, todos os canhões ou todos os generais.

O que é esta quinta-coluna, misteriosa e extensa, cujos dedos mágicos e impalpáveis encontram sempre, no momento decisivo, no lugar decisivo, no posto indispensável, o homem serviçal e flexível que abre sorrateiramente as portas das mais intransponíveis fortificações, anestesia e transforma em inofensivas cobaias, os mais valentes leões de guerra e fere de sonolenta cegueira os mais dinâmicos e perspicazes estadistas? A que realidade trágica e satanicamente profunda corresponde esse grande mysterium iniquitatis?

Não causa surpresa que os fariseus tenham encontrado um Judas. Mas, que o perfil diabólico do Iscariotes se multiplique indefinidamente, espalhando-se, esgueirando-se, tramando sorrateiramente e obtendo vitórias que são verdadeiros golpes de prestidigitação, eis aí uma novidade desconcertante cujo raio de ação parece transcender a órbita dos recursos humanos.

De nossa parte, estamos certos de que o substratum humano mais profundo da quinta-coluna não é fornecido nem pelos aventureiros, nem pelos oportunistas, nem pelos traidores vulgares que a peso de ouro sacrificam seus mais sagrados deveres. Há demais trabalho, demais inteligência, demais êxito nesse vasto plano para que façamos ao oportunista a honra de o apontar como seu autor. Só um idealismo ardente e satânico como o que animava, outrora, os propagandistas da Revolução Francesa e do Comunismo, pode explicar tantas e tais vitórias.

Mas, esse pequeno punhado de idealistas de nada valeria se não encontrasse a seu serviço toda uma coorte de oportunistas, de imediatistas, de brilhantes ratés e de inconsoláveis fracassados, dispostos a tudo, prontos a tudo, a todos os riscos como a todas as infâmias, para manter a fachada ilusória de uma situação social já esboroada, de uma reputação já comprometida ou de uma tradição já maculada. Aí, nesse bas-fond humano, é que se encontram todos os agentes da quinta-coluna, todos os miseráveis que servirão de instrumentos a essa catástrofe em marcha que é o totalitarismo.

Fonte: Pearl Harbor e o Carnaval, Legionário, 15.02.1942