Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.
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28 de julho de 2017

Coexistência de uma virilidade real com uma religiosidade sincera

Entre os muitos preconceitos errôneos que dominam a mentalidade das massas populares hodiernas, figura em lugar de destaque a convicção muito generalizada de que é impossível a coexistência, no espírito de um homem, de uma virilidade real com uma religiosidade sincera. (...)

É necessário que nos esforcemos por arrasar os preconceitos mesquinhos com que a mentalidade hodierna cerca e deforma a idéia de “homem”.

E, uma vez executada esta obra de desobstrução, poderemos então ressurgir, no espírito público, a majestosa e máscula concepção cristã de virilidade.

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A simples análise racional da expressão “viril” indica claramente a inanidade dos preconceitos modernos (veiculados especialmente pelo cinema e pelo excesso do esporte) a este respeito.

Ser másculo significa ter todas as qualidades próprias ao homem, para que este desempenhe integralmente os deveres ditados por sua alta finalidade religiosa, moral e social.

É evidente que o esforço que se desenvolva para produzir no homem qualidades estranhas à sua finalidade será ou inútil, ou nocivo.

Por outro lado, é bem evidente que as qualidades serão tanto mais preciosas para o homem - e, portanto, tanto mais másculas - quanto mais altas forem as finalidades humanas que elas visem conseguir.

Os diversos fins de um homem não têm todos importância igual. Pelo contrário, a razão demonstra que eles se subordinam uns aos outros, numa hierarquia completa.

Para cada finalidade do homem existem virtudes adequadas. E tanto mais necessárias ao homem - e portanto mais máscula será a virtude - quanto mais elevada for a finalidade que lhe corresponder.

Se existe um Deus, o primeiro dever do crente será de lhe prestar reverência e homenagem. E a violação deste dever primordial será, para o homem, uma infração máxima à virtude da virilidade.

Aos olhos dos próprios descrentes, portanto, deve ser tido o crente que não cumpre seus deveres como indivíduo “inviril”.

E, como uma conseqüência lógica, tanto mais viril será o crente quanto mais cabalmente der desempenho a seus deveres religiosos. Vêm em seguida os outros grandes deveres do homem, que marcam como que outros tantos degraus na escada da virilidade: os deveres em relação à família, em relação à pátria, em relação à humanidade, em relação a si próprio.

O cumprimento destes deveres é árduo. Ora exige os grandes esforços que caracterizam os heróis, ora reclama trabalhos obscuros e perseverantes, sem poesia, sem grandeza, todos feitos de abnegação ignorada e de banalidade absoluta.

Para o desempenho destas grandes missões, que fazem da vida de cada homem, quando bem compreendida, um poema de beleza incomparável, são necessárias certas disposições que são o pedestal de toda a virtude ou virilidade sólida.

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Vem, em primeiro lugar, a força de vontade, que é o alicerce de todas as demais virtudes. Em seguida vem todo o longo cortejo de virtudes viris, que em última análise são um simples corolário da força de vontade: sobriedade, perseverança, domínio de si mesmo, prudência, coragem, audácia, generosidade, etc.

Todos estes atributos não constituem virtudes diferentes; são apenas as cintilações multicolores de um mesmo brilhante: o vigor da vontade auxiliada pela graça.

Fonte: "Os livros que devem ser lidos", Legionário, nº 86, 13.09.1931

15 de novembro de 2015

A tragédia de Paris

Depois da catástrofe, um grande e sombrio silêncio se fez sobre a capital francesa. E, no Brasil, inúmeros têm sido os corações que não pensam sem angústia e sem amargura no que poderá estar sucedendo nessa cidade à qual estão tão vinculados os afetos brasileiros. (...)

Não é este o lugar nem o momento de se tentar um processo contra a cultura francesa. É certo que da França nos têm vindo muitas sementes de corrupção e de impiedade. Seja-nos lícito, entretanto, [ressaltar que] a França do século XIX, por exemplo, não produziu apenas um monstro como Gambetta, um ímpio como Renan, ou atrizes levianas como as que, nas “boites” de Montmartre, escandalizavam os viajantes do mundo inteiro. Produziu ela também um Luiz Veillot, um Ozanam, um Montalembert, um Lacordaire, e uma rosa de pureza e de candura como Santa Terezinha do Menino Jesus. Se a humanidade inteira, em lugar de se abeberar nas fontes de talento e de santidade que nunca se estancaram em terras de França, se ia dessedentar nos antros da corrupção ou nas obras dos apóstatas, de quem a culpa? Só da França? (...)

* * *

Tudo isto posto, é bem de se ver que Paris cometeu graves pecados e sofre imensos castigos. A capital da França, da filha primogênita da Igreja, foi durante muito tempo autora de escândalos sem fim. Ela se circundou de luzes, e foi chamada a Cidade-Luz. Ela se encheu de alegrias profanas, e foi chamada metrópole mundial da alegria. Em seus museus, em seus cenáculos intelectuais, em suas galerias artísticas, ela não cultuou somente a verdade, a beleza, e o bem, mas pôs seu talento ao serviço do erro, do mal e da ignomínia. Por isto mesmo, baixou sobre ela uma catástrofe apocalíptica. Apagaram-se as luzes da Cidade-Luz. Silenciaram os cânticos joviais de seu povo sempre alegre. (...) A ruína em que está Paris lembra, ponto por ponto, as grandes desgraças que, na narração do Antigo Testamento, se abatiam sobre Jerusalém quando ela violava seus deveres.

À cabeceira dessa grande agonia, quantos profetas se têm acumulado! Na sua maioria são profetas que afetam os sentimentos de dor de Jeremias apenas para poder mais facilmente recriminar a França (...). É o lobo assumindo ares de ovelha...

Não será essa nossa atitude. Reconhecendo embora, com a tristeza com que os profetas reconheciam a culpabilidade de Jerusalém, que Paris está muito longe de ser uma cidade inocente, é com o coração pesado de amarguras, que comentamos a desgraça em que caiu. Com efeito, tinha Paris uma missão histórica na Cristandade. E sua ruína deve por nós ser chorada como os profetas choravam a ruína de Jerusalém, deixando transparecer através do pranto as esperanças e o desejo de uma ressurreição.

Se a desgraça de Paris foi merecida, adoremos e beijemos a Mão Divina que permitiu a punição. Nem por isso, entretanto, desculpemos aqueles a quem tão grande desgraça se deve. Crer nos desígnios da Providência não é, por certo, justificar, desculpar, ou ao menos atenuar toda a gravidade da infração que a desgraça de Paris representa quanto às leis da moral internacional.

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A que está reduzida essa grande e tão querida cidade, essa cidade tão maior quanto mais está prostrada sob os golpes purificadores do sofrimento? Quem não vê aí a enormidade do castigo? (...)

Mas se Deus pune assim essa cidade, que punição há, com isto, para toda a Cristandade! A antiga capital dos Reis Cristianíssimos, hoje tomada pelas tropas do neo-paganismo! Do alto do céu, que dirão São Luiz e Santa Joana d'Arc?

Nessa hora de desgraça, não amaldiçoemos Paris, não batamos palmas aos que a oprimem, não nos acumpliciemos com os que a desolam. Rezemos por Paris. Se das cinzas dessa terrível penitência renascer uma cidade convertida, que mais podemos desejar para a França, que é e será sempre a Primogênita da Igreja?

Fonte: "A tragédia de Paris", Legionário, nº 479, 16.11.1941

18 de setembro de 2013

Quinta-coluna: o misterioso e decisivo fenômeno para a derrota do bem

Esta folha [Legionário] já tem escrito muito a respeito da quinta-coluna. Mais ou menos por toda parte ela tem feito terríveis devastações, tem ela obtido para as forças totalitárias mais triunfos do que todos os tanques, todos os canhões ou todos os generais.

O que é esta quinta-coluna, misteriosa e extensa, cujos dedos mágicos e impalpáveis encontram sempre, no momento decisivo, no lugar decisivo, no posto indispensável, o homem serviçal e flexível que abre sorrateiramente as portas das mais intransponíveis fortificações, anestesia e transforma em inofensivas cobaias, os mais valentes leões de guerra e fere de sonolenta cegueira os mais dinâmicos e perspicazes estadistas? A que realidade trágica e satanicamente profunda corresponde esse grande mysterium iniquitatis?

Não causa surpresa que os fariseus tenham encontrado um Judas. Mas, que o perfil diabólico do Iscariotes se multiplique indefinidamente, espalhando-se, esgueirando-se, tramando sorrateiramente e obtendo vitórias que são verdadeiros golpes de prestidigitação, eis aí uma novidade desconcertante cujo raio de ação parece transcender a órbita dos recursos humanos.

De nossa parte, estamos certos de que o substratum humano mais profundo da quinta-coluna não é fornecido nem pelos aventureiros, nem pelos oportunistas, nem pelos traidores vulgares que a peso de ouro sacrificam seus mais sagrados deveres. Há demais trabalho, demais inteligência, demais êxito nesse vasto plano para que façamos ao oportunista a honra de o apontar como seu autor. Só um idealismo ardente e satânico como o que animava, outrora, os propagandistas da Revolução Francesa e do Comunismo, pode explicar tantas e tais vitórias.

Mas, esse pequeno punhado de idealistas de nada valeria se não encontrasse a seu serviço toda uma coorte de oportunistas, de imediatistas, de brilhantes ratés e de inconsoláveis fracassados, dispostos a tudo, prontos a tudo, a todos os riscos como a todas as infâmias, para manter a fachada ilusória de uma situação social já esboroada, de uma reputação já comprometida ou de uma tradição já maculada. Aí, nesse bas-fond humano, é que se encontram todos os agentes da quinta-coluna, todos os miseráveis que servirão de instrumentos a essa catástrofe em marcha que é o totalitarismo.

Fonte: Pearl Harbor e o Carnaval, Legionário, 15.02.1942