O medíocre possui alguma noção de muitas coisas. Noção vaga e flutuante, bem entendido, que não lhe custe adquirir nem conservar. Ele imagina atingir o píncaro de si mesmo quando encontra, para designar cada noção, alguma palavra vistosa ou que, pelo menos, não faça parte do mais corriqueiro linguajar.
Entre nós, uma das palavras preferidas pelo medíocre é "radical". Ele sente no ar que tachar um desafeto de radical é ser nocivo a este. Ser "radical" provoca uma repulsa meticulosa e exacerbada. Então é bom ser anti-radical, porque isto atrai simpatias. Eis assim nosso medíocre a quixotear anti-radicalismo por onde quer que passe. Mas ele murchará e mudará de assunto assim que alguém lhe objete que um anti-radicalismo tão chamejante não passa de mera forma de radicalismo. Pois para debater essa objeção – aliás tão obviamente verdadeira – o medíocre precisaria conhecer exatamente e a fundo o que quer dizer "radical". Ora, seu espírito flanador aborrece os conceitos precisos e profundos.
Fonte: Platão no sindicato, Folha de S. Paulo, 26.03.83
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