"Odiai o erro, amai os que erram", escreveu Santo Agostinho. Grande, sábia, admirável sentença. Entretanto, quantas aberrações, quantas traições, quantas capitulações vergonhosas se tem abusivamente cometido em nome dela!
Há pessoas cândidas - ou covardes - que imaginam as idéias como entes dotados de existência física própria e autônoma, os quais se incubam misteriosamente nas pessoas. Pode-se mover guerra às idéias sem atacar as pessoas, mais ou menos como se pode combater a doença infecciosa sem combater o doente. A guerra é contra o bacilo, tão somente.
Este modo de ver, muito generalizado, infelizmente, em nossos dias, beneficia largamente nossos adversários, pois desarma toda a nossa reação.
A verdade e o erro não são algo de extrínseco ao espírito humano como as fichas na gaveta de um fichário. A inteligência, pelo contrário, tende a assimilar este e aquela, por um processo que tem sido merecida e freqüentemente comparado à digestão. Se alguém come pão ou carne, a digestão incorpora ao organismo uma parcela da substância destes alimentos, que ficam fazendo parte da pessoa. Analogamente, se alguém aceita uma doutrina, esta de tal maneira pode chegar a marcar sua personalidade, que se diria figurativamente que tal homem personifica aquela idéia. Como pretender destruir o pão já digerido por uma pessoa, sem ferir a esta última em sua carne? E como se pode atacar uma idéia sem atingir em certa medida quem a personifica, quem ipso facto lhe dá vida, atualidade e possibilidades de difusão?
Não. A sentença de Santo Agostinho é de sentido óbvio. Ela preceitua que desejemos a humilhação e a derrota do erro, bem como a conversão e a salvação de quem erra. Ela recomenda que usemos, para com quem erra, de toda a suavidade possível. Ela não nos proíbe de utilizar, contra aquele que erra, uma justa severidade, quando isto se torna necessário para o bem da Igreja e a salvação das almas. Nesse sentido, não chega aquela sentença a ponto de inutilizar no católico a capacidade de ação e de luta contra os fautores do erro ou do mal. Muito pelo contrário, os Santos souberam sempre conciliar as duas obrigações fundamentais e aparentemente contraditórias, de amar o próximo e de o combater quando a isto impele o zelo pela glória de Deus e pela salvação das almas.
Fonte: "Por orgulho, repelem toda sujeição", Catolicismo, Outubro de 1957
Um comentário:
Estimado Sr. Sepúlveda:
Salve Maria!
Le felicito por esta iniciativa. Me está siendo de mucha utilidad para publicar los textos en nuestro sitio.
In D
Luis Montes
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