Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

11 de julho de 2017

Direita, centro e esquerda

Existem em todos os Parlamentos do mundo três posições: a “direita”, o “centro” e a “esquerda”. Essa classificação serve igualmente na opinião pública dos povos para qualificar as diversas correntes. Trata-se portanto de um fenômeno universal.

À primeira vista essa divisão pode parecer clara e convincente. Porém, quem pensa um pouco a respeito dela chega à conclusão de que se trata de conceitos relativos. O Partido Trabalhista na Inglaterra, por exemplo, representa sem dúvida a esquerda do Parlamento inglês, contudo seus membros mais moderados são menos “progressistas” do que certos democrata-cristãos da Itália, os quais constituem o centro do Parlamento italiano. Os conceitos de “centro”, “direita”, “esquerda” variam, portanto, de país para país e de época para época. Uma boa parte dos programas dos atuais partidos de centro poderia ser designada antes da Primeira Guerra Mundial como de esquerda. Atuais partidos de direita teriam sido antes de 1914 colocados no centro.

Essa realidade revela, de modo claro e definido, que hoje em dia muito mais se encontra por detrás das palavras “centro”, “direita”, “esquerda”. Não deveriam ser elas, então, substituídas por outras expressões mais de acordo com o nosso tempo?

Muitos pensam assim. Porém, trata-se de uma conclusão apressada e simplificadora. Sem dúvida, revela-se nessa desvalorização e relativização das palavras, que se deu ao longo dos últimos decênios, não apenas uma crise da língua, mas também uma crise mais profunda do pensamento. Entretanto, não tem sentido substituir os vocábulos “direita”, “centro”, “esquerda” por outros. Devemos empregá-los, isso sim, com prudência e cuidado.

A monarquia, por exemplo, é vista no mundo inteiro como uma forma de governo da direita. Na esfera religiosa os presbiterianos estão muito mais à esquerda do que os anglicanos e os luteranos. Na esfera social são consideradas leis de esquerda as que suprimem o patronato em contraposição às leis que protegem este direito.

Uma investigação desses fatos conduz à constatação de que a posição de direita se harmoniza mais com os princípios de ordem, hierarquia, austeridade e disciplina que caracterizaram a ordem medieval. Esquerda significa, então, o afastar-se desses princípios e ipso facto o estar ligado aos princípios opostos.

Assim conservam as palavras “centro”, “esquerda”, “direita” um sentido profundo, lógico, se bem que sutil. Se se tomarem dois pólos espirituais, num se encontra a direita e no oposto a esquerda.

* * *

Também os homens podem ser classificados de acordo com essas três tendências: aqueles que reconhecem a Revolução – pelo menos com uma certa clareza – e se lhe contrapõem: a direita; aqueles que sabem da existência da Revolução e a conduzem rápida ou lentamente rumo ao seu objetivo: a esquerda; aqueles que não conhecem a Revolução enquanto tal ou que lhe percebem apenas aspectos superficiais e que se empenham em manter o status quo: o centro. (...)

Por mais diferentes que possam ser os grupos parlamentares ou políticos, no fundo são essas as três posições possíveis face à Revolução.

* * *

Mas o que é propriamente esta Revolução? E no que consiste a Contra-Revolução? Esses são problemas interessantes e profundos que se escondem por trás do jogo ou da luta entre centristas, direitistas e esquerdistas. (...)

A Revolução é a irreligião e portanto ipso facto uma ruína dos costumes e da civilização. (...)

O orgulho e a sensualidade do fim da Idade Média geraram movimentos culturais (Renascença) e correntes religiosas (protestantismo) com matizes igualitários e liberais. A transposição desses movimentos para a esfera política deu origem à Revolução Francesa. Essa, por sua vez, conduziu ao comunismo, que representa a difusão desses erros para o campo econômico-social.

A Contra-Revolução deve ser, sobretudo, um movimento que se empenha na promoção de uma restauração moral e religiosa séria, como fundamento da reconstrução de uma Civilização Cristã austera e hierárquica.

Fonte: Prefácio a uma edição alemã de "Revolução e Contra-Revolução".

Nenhum comentário: