Holocausto. A palavra merece ser sublinhada, pois o holocausto tinha, na vida
do nobre, uma importância central. De algum modo, ele fazia-se sentir até na vida
social, sob a forma de uma ascese que a marcava a fundo. Com efeito, as boas
maneiras, a etiqueta e o protocolo modelavam-se segundo padrões que exigiam da
parte do nobre uma contínua repressão do que há de vulgar, de desabrido e até de
vexatório em tantos impulsos do homem. A vida social era, sob alguns aspectos, um
sacrifício contínuo que se ia tornando mais exigente à medida que a civilização
progredia e se requintava.
A afirmação pode quiçá despertar o sorriso céptico de não poucos leitores.
Para
que estes ponderem bem o que nela há de real, bastará que considerem as mitigações,
as simplificações e as mutilações que o mundo burguês, nascido da Revolução
Francesa, vem impondo gradualmente às etiquetas e cerimoniais sobreviventes nos
nossos dias. Invariavelmente todas essas alterações têm sido feitas para proporcionar
despreocupação, comodidade, conforto burguês aos magnatas do arrivismo,
decididos a conservar, quanto possível, no seio da sua opulência recém-nascida, a
vulgaridade das suas anteriores condições de vida. E assim a erosão de todo o bom
gosto, de todas as etiquetas e belas maneiras tem-se feito por obediência a um desejo
de laissez-faire, de "descontracção"; e pelo domínio do capricho inopinado e
extravagante do hippismo, o qual encontrou o seu apogeu na rebelião descabelada da
Sorbonne, em 1968, e nos movimentos jovens tipo punk, dark, etc. que se lhe têm
seguido.
Fonte: Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza Romana, p. 116
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