Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

14 de julho de 2014

Mito da Revolução francesa: artimanha de gerações de revolucionários

É muito mais fácil manter uma visão otimista e glorificante da Revolução Francesa, fora e longe da França, que dentro dela. Porque sobre o solo francês ainda permanecem, por assim dizer, as torrentes de sangue derramadas pela Revolução. Nos ecos da vida francesa ainda como que se ouvem os gemidos, os bramidos, as aclamações, as exclamações, os protestos, os argumentos de gerações inteiras que se tem sucedido na Franca, discutindo a Revolução.

De modo que, para os franceses é muito mais concebível a Revolução ser discutida e atacada, do que para populações de países distantes, onde ela pode ser apresentada folcloricamente como um acontecimento triunfal, à maneira de um bolo de noiva, todo branco.

A globalidade do povo francês apresenta uma atitude muito mais questionante em face da Revolução, do que por exemplo o público brasileiro, ou de qualquer outra parte da Terra.

Como o mundo lucraria em perceber que dentro da França se acredita menos no mito da Revolução, do que se acredita fora da França! E compreender assim a grande artimanha levada a cabo por gerações de revolucionários, para arrastar o mundo — sem análise, curvado diante do fato consumado — a uma aceitação vil da Revolução Francesa. Aceitação sem discernimento, sem inteligência e sem coragem.

Na discussão que vem se desenvolvendo na França a respeito da Revolução de 1789, podemos distinguir duas etapas. A primeira vai até fins do século passado, quando começou a ser posta em prática uma aliás controvertidíssima política de aproximação dos católicos com a democracia moderna, conhecida como "Ralliement".

Até o "Ralliement", a idéia era de que altar e trono constituíam duas vítimas da Revolução, solidárias porque a Revolução as odiava de um mesmo ódio e queria afogá-las num mesmo sangue. De fato, a Revolução igualitária de 1789 desencadeou simultaneamente uma perseguição anti-religiosa e anticlerical e outra antimonárquica e antinobiliárquica. E por detrás dessa dupla perseguição, havia um único pensamento, que os revolucionários desejavam impor como molde para as idéias, para a ação e para a estruturação do mundo inteiro.

Tal pensamento falso baseava-se no seguinte princípio metafísico: a desigualdade faz sofrer aqueles que estão embaixo. É sempre penoso para o amor-próprio humano ter superior. E por causa disso, as organizações anti­igualitárias, hierárquicas de qualquer ordem, seriam odiosas. Por exemplo, adotada a ótica revolucionária, torna-se explicável que um trabalhador manual lamente não ser burguês; que um burguês lamente não ser nobre; que um nobre lamente não ser príncipe; e um príncipe lamente não ser rei. A natureza humana seria hostil à idéia de ter um superior, e por causa disso a estrutura hierárquica faria sofrer os homens.

Fonte: Uma revolução igualitária movida pela inveja, Catolicismo, nº 475, julho de 1990

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