Sou tomista convicto. O aspecto da Filosofia pelo qual mais me interesso é a Filosofia da História. Em função deste encontro o ponto de junção entre os dois gêneros de atividade em que me venho dividindo ao longo de minha vida: o estudo e a ação. O ensaio em que condenso o essencial de meu pensamento explica o sentido de minha atuação ideológica. Trata-se do livro Revolução e Contra-Revolução.

24 de novembro de 2015

Paz, paz... mas que paz?

“Opus justitiae pax”: a paz é fruto da justiça.

A respeito de paz, há duas atitudes doutrinárias inteiramente diversas, que, infelizmente, o público costuma confundir:

1) a posição da Igreja Católica, que considera a paz como um bem inestimável mas admite a guerra em certos casos como um direito e em certos casos até como um dever sagrado;

2) a posição dos pacifistas extremos que consideram a guerra como um mal insuportável, por isso mesmo a paz como um bem que a qualquer preço se deve conservar. (...)

[Sobre] a questão da legitimidade da guerra, demos dois exemplos clássicos. Um é o da legítima defesa. O outro é o da guerra sagrada. No caso da legítima defesa, a guerra é um direito incontestável. No caso da guerra sagrada, não existe apenas o direito, existe um dever.

Estes os princípios da doutrina católica. Eles se sintetizam todos em um pensamento de Santo Agostinho. Diz o grande doutor que, ao contrário do que já no seu tempo era uma impressão geral, o mais grave dos males da guerra não está na mutilação ou na destruição de corpos perecíveis que, dias mais dias menos, hão de se corromper dentro das entranhas da terra, na sombra humilde de uma sepultura. O grande mal da guerra, mas maior do que todos os males, está na ofensa que Deus recebe com ela. Porque não se pode conceber um conflito em que ambas as partes sejam inteiramente inocentes. Ao menos uma delas há de ser culpada. E a ofensa que Deus recebe com a injustiça do agressor é, no fundo, o maior mal que uma guerra pode causar.

Ora, se a ofensa que Deus recebe com uma agressão injusta é grande, que dizer-se da ofensa por Ele recebida com a vitória do agressor e com a transformação da injustiça em uma ordem de coisas estável e duradoura que se constitua em permanente injúria à Majestade Divina? A paz que tivesse como fruto evitar a guerra e permitir a pacífica e incruenta consumação da injustiça, quando esta poderia ser evitada pela reação das armas, essa paz seria uma suma injustiça aos olhos de Deus, e os restos do povo avassalado, porém inconformável com a desgraça, clamariam vingança com a mesma veemência patética com que clamou por vingança o sangue inocente de Abel.

Assim, pois, imaginar como imaginam à outrance que é preciso a todo custo evitar a guerra, ainda que a paz assim obtida signifique o desaparecimento de povos inteiros, e a injustiça campeando como supremo princípio da ordem internacional, não é outra coisa senão opor à doutrina católica o desmentido mais formal que se lhe possa opor. (...)

Ninguém tem dificuldade em compreender que a Igreja tenha pregado diversas cruzadas contra o Islã, quando este ameaçou o Santo Sepulcro de Nosso Senhor Jesus Cristo, e a liberdade religiosa das populações cristãs ali existentes.

Fonte: "A posição do Vaticano", Legionário, nº 368, 1.10.1939

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